segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

NO RADAR COM CARLOS LOPES - DORSAL ATLÂNTICA



“Parabéns Carlos, li a entrevista aqui e ficou além das minhas expectativas! Mais importante do que "curtidas" é que estar caminhando ao lado de quem admiro, isso é o mais satisfatório! Por mínimo que seja, fazendo algo para ajudar me sinto parte da engrenagem!”

Com essas palavras agradeci o grande Carlos Lopes, uma pessoa atarefada com as diversas ramificações artísticas que desenvolve, mais solicito, educado e humilde com quem lhe procura! 

NO RADAR hoje tem a honra desse bate papo rápido e extremamente importante, o esse nome que dispensa maiores comentários, porta voz da seminal e genial DORSAL ATLÂNTICA 


1 – A musicalidade da Dorsal Atlântica é maravilhosamente transgressora no sentido de nunca se acomodar dentro do gênero musical estabelecido pela própria banda. Como você “encaixa” “Canudos” dentro de sua discografia?
Meu melhor trabalho na carreira da Dorsal Atlântica.
O entendimento e a aceitação de toda criação artística “descem redondo” quando não se confronta o público, quando o artista entrega ao seu público o que pretensamente ele “parece querer”. Há vários códigos de grupos: cabelos compridos para roqueiros, cordões para rappers, chapéus de palha para sambistas, etc. É a forma de através do qual se abrem portas com o gestual, a roupa, a sonoridade, a mensagem, e por aí vai. Mas por ser artista, da forma como eu vejo e vivo, os códigos não podem se sobrepor à obra. O meu público de seguidores musicais, obviamente, é de adoradores de rock pesado, mas por considerar que eles esperem mais de mim do que de uma banda seguidora de normas, o diálogo é mais maduro e o entendimento também.  A força do não-conformismo. Artes só fazem sentido quando servem de certa forma para abrir as mentes, (des)educar as pessoas e elevar o nível o deslocando do lugar-comum e da zona de conforto. Mas mesmo dentro do mundo do rock pesado, as bandas e público já foram tomados por mentalidades de sucesso, likes, E quando digo isso não quero contribuir para mais verdades-absolutas como a arte clássica é mais digna que a popular, que funk é uma droga e que rock é uma música superior... E sendo assim, minhas opções estéticas, musicais e líricas nunca foram tomadas para agradar, mas para marcar território, tudo em prol do estudo, da independência e do discernimento. Ser independente até mesmo da cena independente. E como isso seria possível?  Sendo brasileiro, mesmo sabendo que os brasileiros colonizados e globalizados são  incapazes de entender.


2 – Desde o retorno com a regravação do clássico “Antes do Fim” (Antes do Fim, Depois do Fim) as novas músicas estão sendo compostas na língua portuguesa. Então lhe pergunto; É importante ser ouvido e compreendido pelo público Brasileiro?
Principalmente nos 3 últimos álbuns: 2012, Imperium e Canudos, a mensagem é radicalmente brasileira. São discos sobre história e política, os mesmos temas que abordo em minha revista em quadrinhos Tupinambah. E te contando isso, ao mesmo tempo estou descartando ter uma carreira no exterior porque o que interessa é o meu país. E friso: o MEU país e não o país da devastação da Amazônia e da discriminação.

Quando fundei a banda em 1981 eu tinha como objetivo criar, desenvolver uma leitura brasileira do rock pesado estrangeiro. Claro que essa visão foi amadurecendo com a estrada, com as mudanças internas e externas, mas nada disso me tornou palatável para a indústria nascente. Não havia gravadoras para lançar as bandas novas em 1983 por exemplo... banquei meu primeiro disco assim como banquei minha primeira revista em quadrinhos. E durante esse processo contei com o público em várias oportunidades-chave tanto nos permitindo tocar no festival Monsters of Rock em 1998 como voltar a gravar em 2012.

3 – Quando se fala em Dorsal Atlântica, muito se fala no conceito das letras, pois você sempre exímio escritor. Mais em termos de instrumental, quais suas ideias e referencias nos dias de hoje?
Não tenho muitas referências a não ser as que me influenciaram quando eu estava na transição de criança para adolescente. Por isso os Beatles foram e ainda são muito importantes em minha formação. Eles são como a minha Bíblia. Ontem mesmo, um apoiador me disse que tentou tocar nossas músicas por anos, mas que eram muito difíceis... Ele está certo, não é fácil, é um pouco intrincado porque é muito personalista. Até hoje, a maioria dos guitarristas não consegue tocar o riff de Caçador da Noite, mesmo que esses guitarristas toquem Steve Vai. E por quê? Porque tem um “suingue” na execução do riff que a maioria dos músicos de metal não se importam em aprender. Curioso, não é?

4 - Alguns discos da Dorsal Atlântica estão fora de catálogo, é possível algum relançamento em comum acordo com a banda?
Possivelmente sim, mas há que haver investimento, talvez através de uma campanha de financiamento. Temos pensado em relançar o Dividir e Conquistar copiado e masterizado da fita de rolo original. Mas como disse o investimento é alto. Um dos motivos, se não o maior, que deu fim à banda em 2000 é exatamente não termos podido sobreviver da venda de nossos álbuns e shows. Um assunto delicado, que muitos na cena de metal, não gostam de refletir sobre é que só há bandas grandes – com toda a estética possível (cabelos, tatuagens, roupas pretas, satanistas inclusive) – porque há investimentos grandes. Não é a música e as idéias que te fazem crescer, mas a repetição de fórmulas financiadas a um custo alto, financeiramente falando, feitos em ambientes considerados “alternativos”, “underground” e de subculturas. No fim das contas, tudo é negócio. “Vida de gado, povo marcado, povo feliz...”

5 – Além da parte musical, da inserção como escritor, você ainda está à frente de alguns trabalhos como ilustrador de História em quadrinhos de sua autoria e direção! O Que podemos esperar dessa simbiose artística que sempre reinventa Carlos Lopes em tempos modernos?
O meu primeiro sonho foi ser desenhista de quadrinhos. Desde cedo alguns trabalhos meus foram publicados em jornais infantis nos anos 1970, mas eu não me empenhava tanto... Aí quando descobri os Beatles com uns dez a doze anos, abandonei os desenhos e me tornei guitarrista. Só vim a desenhar de novo durante a gravação do CD 2012 da Dorsal Atlântica. Eu já estava de saco cheio de música, do ambiente musical e relembrei do meu antigo sonho de ser desenhista e a partir de 2015 decidi que era o que queria fazer. A escolha natural para entrar nessa nova jornada era contar a história da banda em quadrinhos. Da minha maneira, de forma lúdica, sem copiar quem quer que fosse, nos desenhos e no texto. A História em Quadrinhos sobre a Dorsal foi relançada em 2019, agora colorida e com papel de alta qualidade. A realização de um sonho!
No momento, estou trabalhando na revista Tupinambah 2 e pretendo disponibilizar quase todo o meu acervo musical, da Dorsal; Mustang; Usina Le Blond e meu trabalho para crianças na rede em 2020. Há muita coisa a ser feita...


Por Vitor Carnelossi



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Desde 2013 produzindo matérias e entrevistas para grande rede.
Editor responsável - Vitor Carnelossi


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