segunda-feira, 25 de setembro de 2023

EDDY LUST´N – A LOCOMOTIVA SONORA E METRALHADORA VERBAL DO ROCK AUTORAL PARANAENSE

 EDDY LUST´N – A LOCOMOTIVA SONORA E METRALHADORA VERBAL DO ROCK AUTORAL PARANAENSE


O maior vocalista paranaense de todos os tempos. Um dos melhores que vi em um palco ao longo de décadas vivenciando o mundo da música. Ácido, visceral,  contestador. Genial.  Seu vocal potente despejando seus versos marginais ainda ecoam na estrada no underground por onde ainda hoje trilhamos. Mesmo aqueles que não sabem ou nunca saberão. Mesmo aqueles que não conhecem ou nunca conhecerão. Quem conhece e vivenciou este capítulo mágico e transformador do rock respeita, admira e reconhece neste magistral vocalista um dos responsáveis por todo conteúdo de rock autoral regional que veio em seguida. Faço desta entrevista uma singela homenagem à Eddy Lust´n,  que como sempre nos recebeu de forma muito carinhosa e pontual.  Uma entrevista muito aguardada, reveladora. À partir deste momento o gatilho da metralhadora verbal paranaense está acionado. Aproveitemos este momento histórico como o frontman e band-leader do lendário  Virga Férrea.

CMH – O Virga Férrea arrombou a porta do rock autoral regional e paranaense  em altíssimo nível onde até hoje bebe-se nesta fonte muito fecunda. Como foi o processo de formação do Virga Férrea?

Em 1985, pela brilhante idéia de Jair Palmeira,  empresário envolto com a cultura da cidade, surgiu a brilhante sacada de um festival de rock  intitulado “Sabor de Verão” em Maringá-PR. Eu, como um mero espectador e curioso, não poderia faltar ao evento. Afinal, para um não tão garoto e estudante do curso de história da UEM (Universidade Estadual de Maringá), seria uma oportunidade única explorar o campo das idéias dentro daquilo que, na minha concepção, seria talvez o mundo da contestação para um mundo melhor, quem sabe um Woodstock tupiniquim. Porém, para minha surpresa, nada do que ouvi e vi ali me convenceu, exceto a vontade imatura de um trio chamado “Cidade Virgem”, que tinha como vocalista e guitarrista Almir Zago, baixista Jorge Cesso e, na bateria, Silvio Rocha, até então um locutor iniciante de rádio FM e percussionista nas horas vagas. A proposta do “Cidade Virgem” se distinguia das demais bandas do festival. Covers de Whitesnake (Guilty Of Love), Rádio Táxi em versão de Gary Gliter e outras aberrações do rock nacional  e do rock que não cabem comentar. Finda a apresentação do “Cidade Virgem”, me encaminhei ao “front man” guitarrista e vocalista Almir Zago com a pergunta certa e definitiva: “porque vocês não contratam um vocalista?”. No que me foi respondido: “Se você canta, então vá fazer um ensaio com a gente”. Dito e feito, para quem cantava no pau de uma beliche, seria a oportunidade para o estrelado ou ao menos um palco de madeira sem qualquer sustentação física ou musical. Fui ao próximo ensaio sem demonstrar que o nome da banda “Cidade Virgem” era um fracasso só (risos), porém, não estava com essa bola toda para botar banca e, de cara, mudar o nome do trio. Para quem nunca tinha sequer experimentado uma sessão barulhenta de “não sei por onde começar”, as coisas até que fluíram bem num primeiro instante. Imagine um fantasma de carteirinha do Deep Purple tendo que cantar Rádio Táxi! Porém, foi a oportunidade única para dizer que o nome da banda era um fracasso e que o baterista não tocava como o Ian Paice (risos).  Pronto, dada a oportunidade democrática de se manifestar, educadamente, me manifestei como o singer mor de uma big band do rock and roll… “Virga Férrea” (grande violência, opressão, atacar, extrema severidade), esse era o nome pela situação que vivíamos e o que nos restava  para arrombar as portas daquilo que nos sufocava e nos oprimia. Aceita a idéia, de “Cidade Virgem” foi tirada a identidade e o cabaço, deixou de existir para se tornar a banda “Virga Férrea”. Esse foi o prenúncio de uma banda com identidade própria, de som autoral próprio e sem meias palavras, estávamos prontos para dizer tudo aquilo que todos temiam e não tinham coragem de falar por muito tempo. O Virga deu adeus à qualquer tipo de repressão e todos encheram seus pulmões para cantar e bom e alto som “a esperteza desses idiotas (políticos) não me engana, é a pura mentira destilada em organismos… é reio na carne”.

CMH- O encontro da formação clássica do Virga Férrea composta por músicos excepcionais aliado à influência com o que há de melhor no berço do hard rock e heavy metal resultou numa obra autoral extraordinária. Quem conhece cultua a banda e esta referida obra. Vocês tinham dimensão do que estavam construindo na história do rock paranaense? Comente sobre isso.

Na verdade, apesar de eu ser um veterano culturalmente falando na banda e estudante do Curso de História, tinha alguns pontos de vista distantes daqueles que os “meninos” enxergavam como diversão. Deixamos ao longo de 1985 a 1990 muitas músicas que sequer nos importamos em tocar novamente, o processo criativo na minha cabeça (letras e melodias) fluía como se tivesse escovando os dentes. Porém, com a troca de alguns membros nesse período, a banda enfim encontrou um porto não tão seguro com a chegada do baterista Sérgio Halabi e do baixista Stone Ferrari, oportunidade em que evoluímos musicalmente e passamos a ser reconhecidos como uma banda de respeito pela atitude e adiante de nosso tempo, com um som autoral que sequer nunca ouvimos como paralelo até hoje. Tínhamos noção do que éramos e podíamos fazer, mas as coisas nunca foram como pensamos e queremos, o sistema é bruto para todos, nunca foi e nunca será fácil encontrar a nave que nos levará às estrelas.

CMH – A acidez, o visceral, e a poesia marginal são traços muito latentes na obra do Virga Férrea Comente sobre isso.

Talvez se tivéssemos focado nossa obra em peitos e bundas seríamos mais reconhecidos, mas optamos pelo mais difícil caminho da compreensão humana, a luta por direitos e deveres. O que, dentro da próprio banda, foi motivo de divergência, uma vez que queriam que eu fizesse letras que falasse de amor”, mas como de amor eu não sofro e nem tenho dor, nunca arrumei a inspiração de David Coverdale para tanto, preferi o caminho mais difícil, que fez da banda uma referência contestatória, cujas mensagens nunca foram tão atuais: “saio por essas ruas, por essa ruas tristes, onde caminham pessoas, todas para o seu destino, onde o tempo não pára, não param edifícios, onde o progresso é a ordem crescendo dentro do lixo…”

CMH- Afirmo e reafirmo aos quatro ventos (sem qualquer constrangimento)  que você é o maior e melhor vocalista que vi em ação no Paraná e um dos melhores do Brasil (e olha que nesta estrada já vi muitos....).  Uma verdadeira locomotiva sonora dominando os palcos onde passava em apresentações viscerais. Quais suas influências? Como isso surgiu na sua vida?

Como já dito antes, talvez não com muita clareza, cantava no pau da beliche que dividia com meu irmão, que muito se parecia com um microfone (risos). Felizmente me aventurei a aceitar o convite do Almir para vocal do Cidade Virgem. Mas, em se falando de influência vocal, o meu maior ídolo com certeza é “Ian Gillan” (Deep Purple), pela seu timbre e voz solta, despropositada, sem rodeios, vai ao ponto e pronto! O cara é genial, tanto que, em sua homenagem, coloquei o nome em meu filho caçula, mesmo a contragosto da patroa (risos). Devo muito à Ian Gillan, e ele sabe disto, esse é o meu consolo!


CMH – O tempo é uma carruagem que nos leva pelas mãos.  Como você observa a maturidade dos mais clássicos vocalistas, e como você pessoalmente lida com isso?

Tenho acompanhado de perto os auges e decadências de muitos monstros dos vocais. De certa forma, nunca nem ninguém sempre estará no auge, porém, a forma como você conduz a sua vida, seja ela regrada de bons modos, mas insana em atitudes, te levará à decadência. Vejo que muitos vocalistas se esquecem do dia de amanhã, principalmente aqueles que fumam e bebem em excesso sabendo que dia sim, dia não, têm seus compromissos agendados. Temos bons exemplos que não cabe aqui nominarmos, mas a maioria sequer se dá conta que a voz não é como um instrumento que se troca as cordas.

 

CMH – Dentre os vários capítulos da bonita, transformadora e inspiradora história do Virga Férrea tiveram dois momentos em que a banda literalmente colocou abaixo o ginásio Chico Neto em Maringá nas edições do FEMUCIC.  Quais lembranças destes momentos?

Desde menino, eu sempre acompanhava e não via a hora de chegar o FEMUCIC, afinal eu morava a um quaerteirão do Cine Maringá, onde eram realizadas as primeiras edições. O FEMUCIC era um evento que premiava os melhores, porém se tornou com o tempo apenas uma amostra musical de todos os estilos, o que certamente estilizou o festival e acabou se tornando algo chato de se ver. Participamos, se não me engano, por duas edições, uma no Cine Teatro Plaza - onde fomos premiados -, e, outra, no Ginásio Chico Neto, cuja apresentação se destacou pela atitude do público e pelo chamamento deste para que “acabássemos com o Congresso Nacional”, diante do fraco desempenho de nossos representantes diante da situação que estávamos passando à época. Foi uma noite memorável, mas que infelizmente as geração fururas nunca saberão disto. Infelizmente!

CMH – Vocè consegue enxergar que o rock clássico esteja sendo repaginado ou segue adiante  com novas bandas diante de tantas vertentes que o rock criou? Quais bandas atuais chamam sua atenção?

Eu sempre acredito nas boas intenções de bons músicos e compositores. Porém, com esse papo de progressistas e de uma nova ordem mundial, acredito que não há espaço algum para boas intenções, exceto um mercado alinhado em desagregar e transformar a sociedade num serviçal de suas expectativas de ganho e lucro fácil, a voz da esperança, da paz e de um recomeço sob a perspectiva humana para o próximo milênio são aterrorizantes, só se dará bem quem ler a cartilha do mal, acredito mais na música dos emburrecedores progressistas que no “return to fantasy” do Classic Rock.

 

CMH- Quais dicas você daria para quem ser vocalista ou front man-woman de uma banda,  independente do estilo musical?

Eu sempre digo que “o melhor lugar do mundo é o palco”. Ser humilde, tratar a coisa com seriedade e estar focado a cada detalhe que a música exige é um composto que pode, ou não te levar ao sucesso, só depende de quem o esteja ouvindo e entenda sua mensagem de forma positiva.

CMH -  O material do Virga Férrea é precioso e raro. Quais planos para esse acervo?

Esse talvez seja o meu maior pesadelo. Muitos passaram pelo Virga, mas acredito que nenhum deles entendeu absolutamente nada do que diziam as letras e sequer sabem cantarolar alguma das músicas. Pode-se pensar como um absurdo, mas um absurdo é! Alguns diziam, o Virga é você! Não! O Virga nunca foi o Eddy Lust’n, a música do Virga sempre foi muito direta, universal, sem narrativas e atual politicamente como todas as coisas são, mas preferiram abandonar o barco para projetos próprios e, evidentemente, tudo se perdeu no tempo. Reconstruir tudo isso é muito difícil, o mundo mudou e as pessoas preferem deixar de lado os sonhos a participar de algo em comum com medo de não serem reconhecidas pelo pouco que fizeram.

 

CMH – Como estão seus projetos solos? E, veremos ainda o Virga Férrea em ação?

Por enquanto não há projetos solos, tenho sido convidado para algumas apresentações locais, mas tudo não passa de uma brincadeira por assim dizer, mas espero ainda fazer algo substancial para talvez encerrar esse capítulo tão confuso de uma banda que tinha tudo para dar certo, mas preferiram não apostar. Louvado sejam os Deuses do Rock que persistiram (risos). A dinâmica da música está muito mudada hoje em dia, as pessoas ouvem mal e atuam mal no papel de suas competências ou incompetências. É horrível você se relacionar com pessoas que sequer conhece outra banda senão os Beatles, acreditam que o que fazem como músicos/artistas é o suficiente para empinar o nariz e cheirar um pó a  aprender com quem deixou um legado sonoro e incontestável de histórias verdadeiras que validaram toda nossa existência musical. Talvez o feeling Virga Férrea tenha passado, e, por enquanto, do passado viveremos (risos)

 


CMH – Cidadão Vigilância – último single da banda  - trouxe um Virga Férrea maduro e preservando seus traços ácdos e repleto de uma marginalidade contestadora típica da banda em toda sua história. Comente sobre isso.

Cidadão Vigilância é uma letra que eu sempre falava com o Almir a respeito. Mas, como tudo na música surge do nada, um dia fui até a oficina dele com um riff na cabeça, cantarolei e disse que era aquilo que eu imaginava. Como um bom parceiro de longa data, achamos o ponto ideal do som e levamos para o ensaio, não durou nada e música estava pronta para ir pro forno. A continuação dela é uma obviedade no nosso dia a dia, mais direta impossível!

CMH – Quais seus discos preferidos?

Tenho alguns discos de estimação: 1) Deep Purple “In Rock”, “Machine Head”, Black Sabbath “Black Sabbath”, os primeiros do UFO, Uriah Heep, Yes, Warhorse, e por aí vai… mas, o meu gosto musical não secredytinge aí passado, tenho muito apreço por figuras estranhas, como o francês ARNO, a LEONARD COHEN, P. J. Harvey, Alex Harvey Band, NICK CAVE e outros bichos dessa caverna estranha chamada Rock and Roll (risos)

 

CMH –Quais seus vocalistas preferidos?

Ian Gillan, Ronnie James Dio, Bruce Dickinson, David Coverdale, Ian Astbury, David Byron e outros que não me lembro agora (risos). Todos são fantásticos dentro daquilo que se propõe e/ou propuseram pela música.

CMH – Espaço para suas considerações finais.

 Finalmente, gostaria de externar a minha gratidão à CHM, em especial ao meu fiel amigo Marco Aurélio, a quem devo todo respeito e consideração pela sua avidez em tornar viva a história da Virga Férrea, como também à cidade de Colorado, onde no passado tivemos a satisfação de tocar no clube - que não me lembro o nome kkkkk - no aniversário da “Coche”, que me inspirou em algum momento a chamar todos a cantar: “Hoje é o aniversário da Coche; para a Coche o aniversário; para a Coche o caralho, parabéns!!! Noite inesquecível, tocamos músicas até que não sabíamos, mas deu tudo certo! Gratidão a todos!

 

*Por Marcão Azevedo.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

WILLIAM CASTILHO – A BATERIA, O MÚSICO EM ESTÚDIO, A MÚSICA EM SUA VIDA

Nosso convidado desta edição é o baterista William Castilho, um talentoso e versátil batera que trilha seu caminho e espaço na música de forma muito ampla, deixando sua marca à cada nota tocada com muita alma, e também  com muita propriedade e personalidade. Estudioso do instrumento, discreto, William Castilho nos recebeu de forma muito receptiva para essa entrevista bem abrangente e que traz em seu conteúdo dicas super importantes para os amantes da música em geral.

CMH - Como começou sua relação com a música e a bateria?

A minha relação com a música começou desde muito cedo. Venho de uma família de músicos e desde minha infância sempre estive habituado neste universo musical, participando de shows juntamente com minha família.

Vendo meu pai tocar bateria, sendo ele minha primeira referência, comecei a me interessar por instrumentos rítmicos, e o primeiro instrumento que tive contato foi o pandeiro, por não ter coordenação motora ainda suficiente para tocar bateria, porém sempre observando meu pai para assim conseguir aprender.

 Aos 08 anos de idade em um momento oportuno substitui meu pai em um show na região, encarei o desafio de frente sem nunca ter tocado “pra valer”, e desse momento então percebi que a bateria era meu instrumento, a extensão do meu corpo. Sou baterista a 20 anos, duas décadas de paixão imensurável ao instrumento e a música como um todo. A música em seu sentido mais puro é a poesia da alma.

CHM - -Você é um baterista habituado aos estúdios. Como é pra você a relação com os registros que ficarão literalmente gravados em cada música, em cada obra?

Costumo sempre dizer que cada música é uma obra atemporal. No processo de composição de linhas de bateria, assim também com todos os outros instrumentos, todo baterista pode deixar sua essência, sua marca registrada, sua forma de tocar, sua “pegada” o “feeling” individual. Particularmente gosto de compor variando em compassos 4/4, 3/4, 4/8 e 6/8. Isso me chama atenção, pois segura a atenção do ouvinte para descobrir o “que vem depois” ou até mesmo um desconforto na finalização de cada compasso. Isso é incrível. Ter isso registrado também é uma forma de ler e entender o próprio processo de compor e escrever as linhas rítmicas e olhar para a obra e pensar, “o que eu poderia acrescentar aqui ou ali”. Aprender com a própria obra é a melhor forma de desenvolver a musicalidade.



CHM - -Voce se sente mais à vontade em estúdio, ao vivo ou ambos?

Posso dizer que me sinto a vontade nas duas ocasiões, porém ambas exigem sensibilidade diferente e transmite sensações diferentes. Vamos lá:

ESTÚDIO: O estúdio é a casa de qualquer músico. Ali é o momento de criar e ser completamente técnico. A música exige regras, e uma boa educação musical. Cada instrumento tem seu papel fundamental dentro de uma melodia, divididos em rítmicos, harmônicos e melódicos. A bateria em regra geral por ser rítmica ocupa um espaço gigante na composição, e no campo harmônico, mantendo a base e envolvendo todos os outros instrumentos. A ideia é nenhum instrumento ocupar o espaço do outro dentro do campo harmônico.

Ex: No momento da mixagem da bateria, é interessante tirar as sobras de grave (high pass) do kick (bumbo) da bateria, pois essa região do campo harmônico o contrabaixo estará em destaque, pois é um instrumento que naturalmente soa grave. As frequências altas da guitarra e dos violões precisam necessariamente estar em regiões distintas para não “chocar” o som, não tendo cancelamento de fase, dessa forma precisa-se equalizar ambos e descobrir em qual frequência cada um dos instrumentos se encaixa melhor dentro do contexto musical. E quando dois instrumentos ocupam a mesma região, cada um tem seu momento certo de aparecer, isso serve para todos os instrumentos.

Tocar em estúdio exige técnica e estudo, o som deve soar limpo e linear do começo ao fim do take. A famosa pegada do baterista deve ser fluida a fim de vir “quente” e “grande” termos usados em estúdio quando se tem amplitude e corpo na senoide da gravação.

O estúdio é o lugar para tirar da mente a criação, errar muitas vezes e desenvolver e pôr em prática, para assim depois subir em um palco e poder executar.

Não é segredo para ninguém que meu estilo é o Heavy Metal, com pegada Progressiva ou Metal Sinfônico e com uma quedinha enorme para a cultura nórdica no processo de criação. Porém, dentro de um estúdio tive que aprender diversos outros estilos (sertanejo, forró, baião, pop) para gravações que tive que executar e também para conhecimento musical, meus gostos são específicos, mas minha educação é eclética, facilitando assim a hora de produzir outros músicos que me procuram.

Em resumo o estúdio é um lugar muito técnico e que se precisa de uma educação musical aflorada para soar musical a gravação. É o momento de criar, deixar fluir. Gosto sempre de dizer que cada ideia é válida, e serve para cada momento certo dentro do contexto de uma composição.

Ao VIVO (Palco): O palco é o espelho do estúdio, porém sem o momento para errar e poder começar de novo. A ideia é executar o que já foi gravado da forma mais fiel possível. Claro que nesse momento pode-se acrescentar outros elementos e dar “uma brincada” no instrumento, porém sem exageros, respeitando sempre a educação musical de que cada instrumento tem seu momento certo de aparecer. Estar no palco é uma emoção sem limites, pois existe um público ali que curte aquele som e esta ali para te ver executar aquela obra. Existe claro uma tensão maior pois não se pode errar. Todos os músicos devem estar alinhados, ensaiados e com o metrônomo em dia. Principalmente quando se é utilizado o famoso VS (instrumentos pré-gravados que o baterista ou tecladista solta durante o show), onde o músico deve acompanhar os instrumentos base do VS sem acelerar ou atrasar o tempo. Quem é baterista sabe como sofremos com o metrônomo.

Palco é uma mistura de emoções como adrenalina e medo, principalmente com eventos adversos que podem aparecer, como: Falta de retorno, som falhando, sobras de frequências, ou a falta delas. Problemas estes que toda banda pode estar sujeita a enfrentar em qualquer momento. Seja no começo de carreira ou com ela já consolidada.

Palco e estúdio são fantásticos. A tensão é diferente, mas a paixão pela música e pelo instrumento é o mesmo sempre.

 

CHM -  Sobre dicas: Quais dicas você daria para o baterista que vai entrar em estúdio? Quais dicas você daria para o baterista iniciante no instrumento?

Para aqueles que vão iniciar suas primeiras gravações, minha maior dica, ou conselho é estudar o metrônomo, e estudar muito. O baterista não precisa dominar a arte de escrever partitura ou figuras rítmicas (breve, semibreve, colcheia, semicolcheia, fusa e semifusa). Mas precisa entender de “tempo” e compasso, que são os dois princípios que regem o instrumento. O importante é fazer pouco e bem feito do que fazer muito e não soar musical. Todo baterista que vai começar deve se fazer essa pergunta, como posso fazer isso soar musical? E é claro, respeitar os outros instrumentos e entender que seu momento de brilhar vai aparecer.

Para quem está iniciando no instrumento, já afirmo de antemão que é o melhor instrumento para se aprender. Afinal, desenvolve de forma geral a coordenação motora, e desenvolve o raciocínio criativo.

Aprender bateria pode ser árduo, com exercícios intermináveis de resistência, por isso, não desistam, vai valer a pena treinar só bumbo, só caixa, viradas básicas repetidas vezes, desenvolvendo assim memória muscular e facilitando nas etapas seguintes. Gosto de dizer sempre a todos que tocar bateria é matemática pura, contar compasso, contar tempo, metrônomo. Por isso estejam com a matemática em dia. Brincadeiras a parte, para quem for iniciar no instrumento, desde o primeiro contato e interessante já começar os estudos com o metrônomo e é claro, se inspirar em alguma referência. É nesse momento que a familiarização com cada estilo é formada, para assim desde cedo já começar a ter a própria identidade.

 

CHM - Você participou da organização de eventos de grande envergadura para os padrões locais ao trazer tanto o Aquiles quanto sua banda. Como foi esse momento e como você avalia essa experiência?

Posso dizer que foi um momento de realização pessoal. Colorado sempre foi referência no âmbito sertanejo, e ter aqui um dos maiores nomes do Instrumento foi surreal.

 Desde o começo dos anos 2000 sempre gostei da banda Angra, com aqueles rifs pesados de guitarra, baixo com Trhee Finger Technique, composição orquestral e aquela linha de bateria complexa com pedal duplo e sextinas, principalmente do álbum TEMPLE OF SHADOWS que para mim é sem dúvidas a maior referência de Power Metal no Brasil.

Em 2014 tive a oportunidade de conhecer o Aquiles Priester de perto em um WorkShop na cidade de Londrina PR. Para mim, abriu a minha menta em relação à bateria podendo entender um pouco do seu processo de criação e como consegue executar com tanta precisão e maestria o instrumento, fielmente ao que foi gravado em estúdio. Nos anos seguintes pela sua influência me dediquei em estudar de forma árdua o instrumento no processo de criação e composição.

Em 2018, Aquiles anunciou nas suas redes sociais que viria para o Brasil em uma turnê de WorkShop novamente. E pensei de forma ousada porque Colorado não poderia receber um evento desse porte? Nesta época, eu estava lecionando em um Estúdio Musical um curso de produção musical juntamente com meu grande amigo Ney Farias. O mesmo abraçou a ideia comigo e entendemos que seria fundamental para nossos alunos ver de perto esse grande artista, e ver na prática o que estávamos ensinando.

Assim entrei em contato com o Aquiles através das redes sociais, então, formalizamos a data e contrato para a apresentação. Imediatamente, iniciamos uma campanha árdua de propaganda para a região para prestigiar o grande Aquiles, sendo ele eleito por 16 anos seguidos um dos 5 maiores nomes do Mundo da Bateria.

Para conhecimento de muitos, Aquiles foi cotado para uma audição com o grande Dream Theater, maior nome do Metal Progressivo desde a década de 80. Aquiles esteve entre os 7 melhores do mundo para essa audição.

Durante semanas ficamos nos preparativos para o evento, recebi da sua equipe o Setlist de palco e fomos atrás de cada detalhe para ser impecável. Som, estrutura, iluminação e é claro, o público.

No dia da apresentação, posso dizer que chorei, em estar frente a frente com uma das minhas maiores referências do instrumento. Logo pela manhã, lhe dei um abraço e disse que naquele momento eu estava realizando um sonho, e também o sonho de diversas outras pessoas que levam o instrumento com paixão.

Puder ser ali o contratante de um dos maiores nomes do Power Metal, e com orgulho pessoas lembram de mim e do Ney Farias como dois personagens que ousaram, que quebraram crenças limitantes em Colorado, uma cidade do interior totalmente sertaneja e que foi palco de uma noite de Metal.

À noite, no momento do show, me vi ali aquela criança de 08 anos que teve seu contato com a bateria pela primeira vez. Uma explosão de sentimentos em ver aquele cara na minha frente, comendo na minha casa e falando comigo sobre música de igual por igual. Foi mágico!

Em julho de 2019, Aquiles entrou em contato comigo dizendo que sairia em turnê com alguns músicos de sua banda Hangar para comemorar o Álbum Somewhere in Time da banda Iron Maiden na íntegra, e me perguntou se eu tinha interesse em trazer tal evento. Prontamente disse que sim e que precisava de dois dias para assinar o contrato.

Em dois dias formei uma comissão com amigos e simpatizantes do Metal para tornar realidade esse evento. Contrato assinado, começamos novamente 4 meses de divulgação intensa para o evento que aconteceria no Evidence Eventos em Colorado Pr.

Tensão a mil, pois o cachê dessa vez era de uma banda completa e precisávamos por público no local. As divulgações foram pesadas em Maringá, Londrina, Presidente Prudente e Paranavaí.

Nesse meio tempo, Aquiles permitiu que uma banda fizesse a abertura do show. De imediato um colega se pôs de prontidão para tal feito, porém seu baterista não poderia comparecer naquela data, e foi me feito o convite para substituir. Fazendo assim a abertura do grande Aquiles Priester e sua banda aqui e Colorado. Nessa altura eram duas emoções, trazer o evento e agora, tocar na frente do meu ídolo.

Nos preparamos com ensaios intensos para ficar tudo perfeito, criei uma rotina de estudos diários para ocorrer tudo perfeito e não fazer feio na frente de uma das minhas maiores referências do instrumento.

Chegou então o grande dia, recebemos um público diverso, até quem não curtia metal veio prestigiar tal evento. Curiosos queriam saber como uma cidade tão pequena poderia receber um show a nível internacional.

Subimos no palco com a banda de abertura às 20:30 em ponto, toquei com a alma, cada nota, cada virada fiz aquilo com dedicação e paixão. Logo após terminar o show, me encaminhei para o camarim para ver se o Aquiles e a banda estavam prontos, tremendo, suando frio de emoção em tocar naquele momento. Aquiles veio, me deu um abraço e me deu os parabéns por ter tocado tão “redondo”. Receber um elogio dele foi fundamental para eu entender que, tocar com dedicação e amor, vale a pena.

A noite foi um sucesso, Somewhere in Time na íntegra e demais outras músicas da banda Inglesa. Público foi a loucura e recebemos até elogios do dono do espaço locado, pois em anos fazendo eventos, foi a primeira vez que viu um público respeitoso, educado, que realmente vai para curtir uma boa música.

O público do Metal é diferenciado mesmo!

 

CHM - Quais seus projetos atuais?

Atualmente meu foco é estúdio. Estou em um hiato com minha banda principal, a Alpha, mas em processo de composição e criação de linhas de bateria de alguns singles instrumentais com características de Metal Sinfônico e cultura nórdica, algo que venho estudando a um bom tempo. Algo poético em cada nota executada.

Em paralelo, estou participando colaborativamente como compositor em um disco de um grande amigo, João Carlos. Álbum este que irá trazer as raízes do Blues. Letras intensas e reflexivas para quem realmente gosta de sentar, tomar um bom Whisky e curtir uma música de qualidade.

Também, estou envolvido em projetos de outros artistas em estúdio, dessa vez com a produção técnica juntamente com o grande amigo Ney Farias. Estilos como sertanejo, Gospel e rock estão fazendo parte desse Roll.

E é claro, para finalizar, estou como técnico de áudio e diretor de palco de eventos recentes da cidade. Fico imensamente feliz por amigos artistas estarem me convidando a fazer parte dessa história de suas carreiras.

CHM -  Você foi convidado de forma pontual para criar e moderar a página Cartas Para o Outono, que é a versão em português   das letras da banda Tragedy Garden ao longo de seus mais de 20 anos na cena underground regional e nacional. Como você recebeu esse convite e comente sobre essa experiência:

Conheci a Banda Tragedy Garden em 2007 através de um amigo chamado Vitor Carnelossi (ele que é membro da banda Tragedy Garden) e um excelente multi-instrumentista aliás. Nessa época, eu frequentava sua chácara todos os sábados para treinar bateria, bateria essa que também era usada para ensaios pelo famoso Marco Aurélio Azevedo, conhecido como Marcão.

Vitor sempre me falava desse tal Marcão, me mostrava na prática as levadas que ele executava na bateria, e como era alguns sons do Tragedy Garden, e eu sempre curioso para saber quem era esse nome da bateria regional. Em certo momento fui convidado pelo Vitor, para assistir um ensaio da banda, eu como bom simpatizante da música na época aceitei de imediato.

Nunca fui de sair, de ter muitos amigos, de brincar por ai, sempre estive atrás de música, então meus pais sabiam que se eu demorasse para chegar, ficavam despreocupados pois já sabiam onde me encontrar, na casa do Jota Silva (um ícone e radialista na cidade) ou na chácara do Vitor, sempre vendo músicos grandes tocarem.

Pude assistir um ensaio do Tragedy Garden e então conhecer o grande Marcão, cara sério, centrado e com uma musicalidade surreal. Onde fazia e faz com maestria o domínio do instrumento dentro do contexto Doom Metal e Gothic Metal. Aquilo pra mim era novidade, era diferente, me causava sentimentos inexplicáveis em sentir notas em escalas menores e tríades e trítonos. E logo, pedi para o Vitor gravar para mim em um Cd um álbum da banda, sendo Enemy Times meu primeiro Cd do Tragedy Garden, cópia essa gravada no quarto do Vitor Carnelossi em 2007. Ali, eu já me considerava metaleiro, sendo Tragedy Garden a porta que me abriu para conhecer esse universo incrível que é o Metal e suas variantes.

Em determinada ocasião em um ensaio, Marcão me deixou tocar um pouquinho na bateria, e logo depois me disse que eu teria futuro nisso, pra eu me dedicar e pra tocar muito Rock’n Roll. A partir daí o Rock e Metal começaram a fazer parte da minha essência, eu com apenas 12 anos de idade.

Devido ao colégio e outras obrigações não consegui mais frequentar os ensaios e muito menos a chácara do Vitor. Porém a admiração e o respeito sempre permaneceram. Com o Marcão acabei perdendo o contato, o vendo apenas esporadicamente em alguns momentos no centro da cidade, não passando daquele cumprimento respeitoso de mim um jovem músico para um músico experiente como o Marcão.

Voltamos a ter contato mais próximo a partir de 2018 quando trouxe o Aquiles para o WorkShop. Marcão também sempre apaixonado pela música e pela bateria, foi o primeiro a comprar o ingresso e sendo um dos primeiros a chegar no local e o último a sair. Depois novamente em 2019 com o show com a banda em tributo a Somewhere in Time, Marcão como sempre, garantindo seu ingresso e de seu filho Igor, e fazendo questão de apoiar a causa.

Depois, em 2021 tiver o privilégio de entrar para trabalhar no Departamento de Tecnologia da Informação e Marketing do Hospital Santa Clara. Hospital esse, que o Marcão também trabalha como Gerente financeiro da instituição. Trabalhar ao lado desse cara é realmente uma aula todos os dias, não sendo à toa que seu apelido é Professor. Marcão sempre culto, respeitoso, paciente e sabendo lidar com as palavras com sinônimos, antônimos de forma precisa.

Em 2022, mais precisamente em maio, Marcão me disse que teria um projeto diferente, de trazer para as redes sociais as composições da banda, tornar acessível toda a poesia por trás do Tragedy Garden e que gostaria de contar com meu apoio para tornar isso possível, de prontidão disse sim. Pois assumir esse projeto ao lado do Grande Marcão era algo de se orgulhar. Demos início em junho e até hoje fazemos a moderação da página Cartas para  o Outono.

Ao ser convidado me senti lisonjeado pois o Marcão estava confiando em mim uma tarefa de proporção e importância enorme, sabendo o quanto ele cauteloso e o quanto se orgulha de sua banda e suas composições. Alinhamos os detalhes e fizemos acontecer. Até aqui tem sido gratificante realizar este trabalho e conhecer Tragedy Garden e Marcão em suas essências.

 

CHM - Quais seus 5 discos favoritos?

1 – Imagens And Worlds – Dream Theater

2 - Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory – Dream Theater

3 – Temple Of Shadows – Angra

4 – Omega – Épica

5 – Infallible - Hangar

9-Quais seus 5 bateras favoritos?

Em primeiro lugar, não poderia deixar de citar o meu pai, Altemir Castilho. Homem íntegro, honesto que é amante da música assim como eu, que em todos meus projetos ele quer saber como está, me apoia e adora me ver tocar. O cara que me mostrou que a música é bela e que uma bateria bem tocada é linda de se ouvir, não se passando por um mero batuque de tambores.

Em segundo lugar, é Mike Portnoy, baterista versátil em todos os estilos mas se consagrou no Metal Progressivo com a Banda Dream Theater, aquela que no começo da entrevista disse que Aquiles foi convidado para fazer audição justamente para substituir Mike.

Em terceiro lugar, é Aquiles Priester, sem comentários descrever o quanto esse cara toca e o quanto ele me influenciou musicalmente.

Em quarto lugar, Mike Mangini, atual baterista do Dream Theater, baterista extremamente técnico, preciso, veloz e muito musical.

Agora, fugindo um pouco da cena Metal, coloco em quinto lugar dois nomes em paralelo, Jeff Porcaro/Simon Phillips, ambos que foram bateristas da banda TOTO, banda essa que em questão de musicalidade e forma de compor possuem um nível sem igual.



 CHM -  Espaço para suas considerações finais.

Gostaria imensamente de agradecer ao Marcão pelo convite a esta entrevista, realmente escrever tudo isso me trouxe memórias nostálgicas em poder lembrar um pouco da minha história da música. Sou um músico em processo de aprendizagem constante e olhar para atrás da para mensurar o quanto consegui evoluir musicalmente e tecnicamente, e perceber que lá atrás eu me imaginei trabalhando com isso e realizando e vivenciando música e hoje estou aqui, posso dizer que vou conseguir deixar registros atemporais para as próximas gerações, e um dia alguém ouvir e dizer, “aquele é o Will Castilho tocando”. É sempre muito bom ressignificar e lembrar da própria história e ver quem esteve junto desde o começo apoiando e incentivando. Deixo para aquele que vão ler que, a música é o sentimento mais puro do homem, a música em sua essência transmite, toca, emociona e realiza. E para quem for iniciar na bateria ou algum outro instrumento, vale a pena, mergulhem de cara nos estudos. Vivam a música assim como eu vivo, sintam como eu sinto e se orgulhem de suas histórias.

Por hora, vou ficando por aqui e até breve. Quem quiser me conhecer um pouco mais e também um pouco dos meus trabalhos, me sigam no Instagram, @castilho.will

Um abraço a todos e bora fazer música!

 

*Por Marcão Azevedo.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

NIGHT OF TERROR – A MENSAGEM UNDERGROUND FORTALECENDO A CENA METAL REGIONAL E NACIONAL

 


NIGHT OF TERROR – A MENSAGEM UNDERGROUND FORTALECENDO A CENA METAL REGIONAL E NACIONAL

Nosso cenário underground regional é de extrema qualidade, com várias bandas reconhecidas em boa parte do território nacional, em vários gêneros. Enxergamos, no canal Night Of Terror,  um veículo de extrema qualidade e responsabilidade dentro do trampo proposto, que é dar espaço para bandas e personalidades do underground regional e nacional conversarem sobre suas obras e temas diversos, e nesse quesito Rodrigo Leonardi (Vozão) e Julião Silva – idealizadores do canal N.O.T o fazem com grande habilidade, de forma bem sacada e sendo uma das vitrines de expressão para quem realmente batalha a cena, quer como banda, músico ou  qualquer outro derivativo ligado à cultura underground. Rodrigo e Julião receberam o Colorado Heavy Metal de forma muito solícita, e à partir deste momento você é nosso convidado para curtir essa conversa muito bacana com dois dos porta-vozes do underground nacional:

CHM -  Como surgiu a proposta do Night Of Terror e como tem sido a aceitação do público em geral com o conteúdo apresentado?

Rodrigo – O Night Of Terror surgiu em 2005. A intenção era ser um fanzine, tanto que chegou a sair um exemplar. Depois disso, percebi o quão era difícil fazer um fanzine e acabou por aí. Depois disso, virou uma espécie de selo da minha banda na época (Abuso Verbal) onde os integrantes realizaram várias coisas com esse nome. O Caxa fez alguns eventos e o Feliz chegou a dar suporte como selo para algumas bandas. Passado- se anos, precisamente em 2016, queria reativar e fazer algo que envolvia artistas independentes, mas foi só em 2018 que comecei a fazer entrevistas com os artistas. Como as primeiras impressões foram ótimas por parte do público, resolvi chamar o Julião para ser meu socio no canal. Com a pandemia, adotamos o formato de lives e seguimos até hoje.

 Julião – Bom, como o Rodrigo citou a cima fui convidado por ele para ser sócio e também participar da elaboração dos conteúdos. Aceitei na hora rsrsrs. Quando iniciei no N.O.T. comecei fazendo entrevistas das bandas que iam tocar no Tribos.  A gente fazia o convite para as bandas. E o Juninho liberava o quartinho dos fundos para a gente realizar a entrevista. E relação a aceitação do público acho está sendo acima do esperado. Pois tenho recibo várias mensagens elogiando que eu e o Rodrigo estamos fazendo ao decorrer deste espaço tempo.  

CHM - O canal Night Of Terror propicia ao público conhecer uma gama bem ampla de figuras de destaque na cena underground autoral. Quais os critérios do canal para seleção dos entrevistados?

 

Rodrigo – O Canal é voltado para a cultura underground, tantos escritores, cineastas, donos de bares e etc. acho que o maior critério é ter algo a apresentar. Ter um motivo para estar com a gente papeando. Nos casos das bandas, desde que se enquadre no rock está tudo bem, já entrevistei bandas de rap também. Porem acredito que não há espaço para outros gêneros musicais.

 

Julião – Em relação aos convidados, buscamos sempre por bandas, músicos donos de estabelecimentos que abrem as portas para o nosso estilo musical que se enquadra no rock e metal. A gente envia o convite para os entrevistados, explicamos os procedimentos  e o chicote estala  kkkk.

 

Rodrigo Leonardi


CHM - Tive o prazer de ser um dos entrevistados pelo canal, e posso atestar o quanto à vontade o entrevistado se sente e o nível de preparo da equipe do NOT como um todo, tendo literalmente conhecimento de causa para cada entrevistado, além da interação de um público também muito identificado. Comentem sobre isso.

 

Rodrigo- Quando entrevistamos alguém, geralmente no começo, o convite partia da gente, então, conhecíamos os trabalhos de cada um. Isso ficaria mais fácil o bate papo. Mas sempre pedimos para os artistas enviar uma mini biografia, para podermos elaboras as pautas. No meu caso, uma hora antes, peco para o artista entrar para passarmos a pauta juntos, ali o artista ajuda a acrescentar algo e diz sobre o que quer falar ou não. Mas nas lives, pelo menos no meu caso, a pauta é apenas uma guia para conversarmos. Muitas perguntas surgem no momento das entrevistas. Quanto ao publico interagir, para mim é uma forma deles participarem ao máximo das lives, se sentirem à vontade para perguntar curiosidades sobre o entrevistado.

 

Julião – Na minha opinião, tentamos deixar o entrevistado em uma situação que ele fique confortável. Para realizar a entrevista, pois pode se notar que é o N.O.T. faz parte de alguns poucos canais de entrevistas. Que apresentador e o entrevistado pode beber umas e fumar sem censura algumas. Situação essa acredito que deixa ambas partes a vontade como estivessem em uma de bar bebendo umas e jogando conversa fora kkkk. E também rola que os entrevistados quando possível enviam algumas informações para que possamos saber mais sobre o seu trabalho. Quando isso não acontece, fazemos algumas pesquisas sobre o entrevistado.



CHM - Os Podcasts e afins tornaram-se um dos maiores espaços para interação com artistas e personalidades em geral. Como o NOT avalia e observa esta realidade?

 

Rodrigo - Olha, eu sempre gostei de programas de entrevistas e sou uma pessoa que quando gosta de uma banda, um escritor, um cineasta, eu não fico apenas na sua obra, fico curioso por bastidores e suas influências. Para mim, acho que demorei ate para ter um canal de entrevistas. Particularmente eu acho muito interessante, porém muitos podcasts ficam na panelinha, ou seja, entrevista as mesmas pessoas. Já caiu nas mesmices. Acho que o foco é mais as visualizações do que o próprio conteúdo. Isso é algo que visamos, mas não em primeiro lugar. Em primeiro vem o grande acervo de entrevistas lives que fazemos, deixando registrado nas plataformas o nosso trabalho, que para mim tem e terá ainda mais um valor histórico artístico no decorrer dos anos.

 

Julião – Na minha opinião é muito gratificante, fazer parte deste ramo de entretenimento em nosso seguimento. Pois sempre fui apreciador de revistas e fanzines onde no passado era a única maneira de nós saber sobre as bandas que gostamos. Com o passar do tempo e o avanço da tecnologia. Conseguimos levar estas informações para os hellbrothers e hellsisters de maneira rápida e objetiva. De bandas e artistas, escritores e etc. Que fazem parte do nosso submundo.

 

CHM - Estamos localizados no eixo Maringá-Londrina-Presidente Prudente. Qual a percepção do NOT sobre a cena underground (em todas as vertentes) neste circuito?

 

Rodrigo- Sempre foi muito rica. Logico que tem seus altos e baixos, mas sempre tivemos ótimos artistas na região. O que as vezes acontece é que deparamos com muitos rockeiros que na verdade se tornam um de fim de semana, quando tem bandas covers tocando. Quem leva o rock e o underground como estilo de vida são bem poucos. Percebe-se que em shows de bandas autorais quase não da gente. Mas os poucos são fieis e é isso que não deixa a cena morrer.

 

Julião- Em relação o nosso cenário, já foi bem mais rico que hoje podemos que tem várias bandas fudidas que sabem  e representam o que é o verdadeiro sentido do undergroud. Mais acho que precisamos de mais cooperação entre bandas e não competição! Tipo assim a banda do brother vai tocar o que custa compartilhar ou curtir o flyer do show. Em relação ao público percebo que hoje esta dando pouca gente.

 

Julião Silva


CHM - Quais projetos o NOT pensa em momento futuro, e como avalia o comportamento do público atual? Vocês enxergam uma renovação na cena, principalmente regional, quando em algum momento bandas de expressão em atividade não estiverem mais presentes? Vocês sentem que há barulho e ebulição nas garagens?

 

Rodrigo- Temos muitas ideias para o NOT. Talvez um podcast futuro, ou começar a ser um selo dando suporte para artistas, mas no momento posso dizer apenas isso (Risos)

Quanto a cena, como disse há pouco, são poucos que levam o rock e o underground como estilo de vida. Pelo menos em Maringá, pude perceber uma galera bem jovem colando nos shows autorias, isso de fato, já me alegra em saber que tem uma galera dessa nova geração dando continuidade para tudo isso não morrer.

 

Julião- Igual o Rodrigo, quem sabem em um futuro próximo um postcast. E também se tornar selo para que possamos lançar bandas que do nosso cenário underground. Talvez rolar um fest com o nome Night Of Terror Inc. E quanto a cena não para sempre surgindo bandas e conhecendo bandas de outros estados que estão destacando em nosso cenário vou citar algumas para que você e os leitores possam sacar caso não conheçam: Sevo, Rötö, Malignant Exclemental, Totemtabu, Sestro, Total Desastre.

 

CHM - Quais os 05 discos preferidos?

 

Rodrigo-Mainstream

1.     Sepultura- Chaos A.D.

2.     Ratos de Porão- Brasil

3.     Iron Maiden- Killers

4.     White Zombie – Astro Creep 2000

5.     Ministry- The Mind is a Terrible Thing To Taste

(Black Sabbath, Slayer, Metallica, vixi, tem um monte, rsrsr)

Underground

1.     Corpse Grinder- Apocalipty Terror

2.     Torture Squad- Pandemonium

3.     Necrotério- Lamment of Flesh

4.     Subtera- Nothing to Death

5.     Holder- Eternal Flames

 

Julião – Meu brother ai você me quebra kkk, vamos fazer assim vou citar alguns rsrsrs, ok!

 

Deicide – Deicide

Slayer – Reign In Blood

Cannibal Corpse – The Bleeding

Death – Simbolic

Mercyful Fate – Don’t Break The Oath

Headhunter D. C.  – And  The Sky Turns To Black

Ancestral Malediction – Demoniac Holocaust

Mystifier - Wicca

Infernal – Ritual Humilation

Holder – Merciful Scourge

Krisiun – Conquerors Of Armageddon

Ratos de Porão – Brasil

Sepultura – Schizophrenia

Torture Squad – The Unholy Spell

 

Vou para por aqui senão vou mandar uns 100 kkk!!!

 

CHM - Espaço para suas considerações finais.


Rodrigo- Agradeço imensamente o convite, agradeço a todos que acompanham o canal. espero nos encontrarmos em breve para botar o papo em dia.

 

Julião – Muito obrigado brother, pelo espaço cedido para podemos expressar nossas opiniões referente ao nosso trabalho valeu mesmo. Em breve a gente se tromba para beber umas e trocar umas ideias valeu.

 

*Por Marcão Azevedo