segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

PARANOID EXISTENCE - "O LADO OCULTO QUE MUITOS TEM MEDO DE ACESSAR"

     Sempre é estimulante falar com quem vive intensamente a sua música e inova ao fazer planejamentos que fogem ao usual. O Bate papo de hoje é justamente com um cara muito prolífero dentro da cena do underground brasileiro. Emerson Silva já encabeçou vários projetos e faz parte da banda Les Memoires Fall que tem excelentes registros disponíveis apreciação. Hoje conversamos sobre o seu mais recente lançamento, o projeto  ‘’Paranoid Existence’’ que lança seu primeiro trabalho, “Drakaina”; uma viagem por sonoridades obscuras e sentimentos antigos e profundos!


Emerson Silva -  One Man Band e ao vivo!

1 - Emerson, é um prazer tê-lo no Blog Colorado Heavy Metal! Você tem trabalhado na divulgação de seu projeto ‘’Paranoid Existence’’, quais as suas intenções sonoras e líricas neste trabalho de estreia?

Saudações Vitor e a todos os leitores do Blog Colorado Heavy Metal! Pra mim é um grande prazer estar aqui, muito obrigado! Isso mesmo, este ano lancei o meu primeiro álbum com a Paranoid Existence, intitulado “Drakaina” e estou muito orgulhoso deste disco. Quando eu comecei a Paranoid Existence em 2018, era um projeto de Crust / Grindcore, apenas para lançar músicas. Mas em 2023, logo após sair da Revengin, decidi que queria fazer um projeto onde pudesse lançar material e sair a tocar no máximo de lugares que puder e daí surgiu a idéia de voltar com a Paranoid Existence, mas com um novo conceito, abordando mitologia, paganismo, natureza... e levando a sonoridade para uma mistura entre Doom, Death e Black Metal. “Drakaina” aborda um epíteto da deusa grega Hékate, que seria a Serpente-Dragão, trazendo uma reflexão e busca do conhecimento sobre o seu lado escuro, o lado oculto que muitos tem medo de acessar, já que envolve você encarar os seus medos e muitas vezes não queremos enfrenta-los...

 2 - No ‘‘ Paranoid Existence’, apesar de ser uma “One Man Band” você encara o desafio de fazer apresentações ao vivo empunhando o baixo e fazendo os vocais. Como tem sido essa experiência que extrapola o tradicionalismo em se tratando do underground?

Eu particularmente sempre gostei de bandas e projetos que fogem do comum. No Grindcore por exemplo, existem várias one man band que fazem apresentações ao vivo. No metal não é tão comum, mas existem. Eu simplesmente decidi fazer isso, já que com uma banda é muito mais complicado coordenar o tempo de todos, questão financeira e muitas vezes vontade dos integrantes de sair em turnê e tocar. Sabemos que muitas das vezes os membros têm outras prioridades e banda acaba não saindo pra tocar ou toca esporadicamente. Quando eu comecei com a ideia, não sabia o que esperar, se as pessoas gostariam ou não, mas isso na verdade não me importa. Eu apenas quero poder compor e lançar minhas músicas e poder viajar o mundo tocando. Aqueles que se identificarem com a minha arte, estarei eternamente grato! Aqueles que não, sem problemas, existem inúmeras bandas aí para que possam apreciar e está tudo bem. Tem espaço para todos! Felizmente a recepção tem sido muito boa, muito maior do que imaginava e a galera tem comparecido nos shows, comprado merchandising, vindo trocar idéia sobre o projeto e o que faço. Sinto grato de verdade a todos que tem apreciado a minha obra!

3 – Acompanhando em suas redes sociais, você prioriza bastante o fato de tocar ao vivo, quais as condições que você considera viáveis para se apresentar?

Sim, como disse na pergunta anterior, este é um dos grandes objetivos! Tocar o máximo possível. Como sou one man band, isso também acaba facilitando para poder viajar e tocar, já que viajo no máximo em 2 pessoas, já que minha esposa me ajuda a montar o cenário, fotos, vídeos e merchandising. Então isso facilita para que possa tocar ao vivo e viajar. Pois sabemos que um dos maiores problemas para as bandas e produtores é a quantidade de pessoas numa banda e o custo que isso acarreta a produção. Quanto mais pessoas, é mais complicado, já que os custos ficam muito maiores. Desta forma que eu faço, os custos com passagens, hospedagem e alimentação é muito menor e até na questão de equipamento para o show, acaba simplicando bastante para o produtor.

4 – Conversando com você “em off” e certa ocasião, você havia relatado que havia feito da música sua profissão principal e estava investindo neste sentido. Como é o planejamento para se chegar a resultados dentro de um segmento mais fechado como o Heavy Metal?

Sim, na verdade foi minha profissão principal durante a pandemia, já que pude trabalhar de várias formas com a música e que neste período onde estava tudo fechado, me ajudou a pagar as contas. Hoje em dia eu sigo trabalhando com música e com outro emprego que me ajuda a complementar a minha renda. Quanto a questão de planejamento, é algo que realmente te demanda um tempo muito maior do que um trabalho normal, já que você precisa trabalhar com várias fontes de renda dentro da música para que possa no final do mês pagar as suas contas e ter algum dinheiro sobrando para lazer e investir na banda, já que viver apenas da banda, tocando Heavy Metal na América do Sul é algo quase impossível. Existem bandas que conseguem, mas geralmente só as bandas grandes. A realidade do underground está ainda MUITO longe disso.

Les Memoires Fall - Dark / Gothic Doom

5 –  O “Les Memoires Fall” alcançou uma projeção bem legal dentro do segmento Doom Metal, quais os próximos passos da banda nesse novo ano de 2024?

Sim, a Les Mémoires Fall já tem 12 anos de banda, 2 albuns lançados, EP, splits... Em 2024 sairá o novo álbum, que se chamará “Abissal”. O disco já está gravado desde 2022, mas como esse ano decidi focar 100% da minha atenção a Paranoid Existence, ele acabou ficando guardado para que saia em 2024. Fora isso, quando seja possível, voltaremos aos palcos, já que os integrantes estão no Brasil e eu moro no sul da Argentina, em Ushuaia, o que impossibilita de fazer shows com frequência.

6 - Tanto o “Les Memoires Fall” quanto o  “Paranoid Existence” possuem em sua sonoridade influencias sombrias, noto que é difícil para quem toca algo mais voltado ao Dark/ Gothic / Doom distanciar-se dessa atmosfera lúgubre. Como funciona o processo de composição para cada banda?

Sim, é verdade, tanto é que acabei levando a Paranoid Existence para esse lado mais Dark do Doom e Black Metal, que são estilos que gosto bastante. No Les Mémoires Fall, no primeiro disco eu compus todas as músicas, já a partir do segundo “The Tree: Yarns of Life”, o nosso guitarrista Alessandro Grou normalmente me mostra algum riff e idéias e eu o ajudo com o direcionamento da música e vamos trabalhando no som até acharmos que está perfeito. Já na Paranoid Existence, eu sempre componho com o baixo diretamente. Então eu sento e começo a tocar e ver o que vai saindo. Os riffs que vão saindo e que eu vou curtindo, eu automaticamente já vou gravando a idéia para não perder e vou organizando a música. É um processo mais livre, já que eu tenho a liberdade de provar e gravar o que eu quiser. Não que não tenha na Les Mémoires Fall, mas na LMF são mais 3 pessoas que também trazem idéias na hora de finalizar o som.

Ermerson - Bass and Vocals

7 – Você tem experiências tocando fora do Brasil, coisa que muitas bandas com 30 anos de existência não tem! Quais as impressões do underground, fora do Brasil!

Então, o underground, em questão do público no meu ponto de vista é igual tanto no Brasil quanto na Europa e no restante da América do Sul. As pessoas são apaixonadas pelo metal em todos os lugares. A diferença que eu vejo em relação a Europa e América do Sul é que normalmente em qualquer lugar que você toca na Europa, sempre o equipamento será excelente, mesmo que seja num porão ou na casa de alguém e os horários são sempre respeitados, coisa que nem sempre acontece na América do Sul. Fora isso, a paixão é a mesma.

8 – No Rock n´Rio você tocou com a banda de Symphonic Metal REVENGIN, conte-nos um pouco sobre essa experiência!

Este foi um grande momento na minha carreira, de poder tocar no Rock in Rio em 2022 com a banda Revengin, no mesmo dia do Iron Maiden, Dream Theater, Gojira entre outras bandas. Foi chegar num estágio que todo músico um dia almeja. Atenção total da equipe do Rock in Rio, produção grandiosa, respeito com o artista, equipamento de primeira qualidade, algo que todo músico sempre deveria ter, mas que infelizmente é algo muito difícil de se ver no underground.

O show em si foi maravilhoso, tem alguns vídeos no youtube, demos entrevistas para televisão, vários meios de comunicação, camarim para banda e equipe, uma estrutura grandiosa! Sempre vou lembrar com muito carinho deste dia, foi um grande passo na minha carreira e me mostrou na prática, como realmente funciona um evento deste porte. Como disse, foi um grande passo na minha carreira, que foi ampliado este ano, já com a Paranoid Existence, com toda a experiência de poder tocar na Europa pela primeira vez. Acho que sempre, o mais importante é você desfrutar de cada passo que você dá. Isso faz com que a jornada seja ainda mais gratificante. Cada passo é uma vitória, um sucesso e é motivo para comemorar.

9 – Gostaria que listasse seus álbuns favoritos dentro do Metal!

Putz, são tantos! Eu gosto de várias vertentes dentro do metal, Power Metal, Symphonic Metal, Doom, Death, Thrash, Black Metal... Mas vou citar alguns dos álbums dentro do metal que eu mais gosto:

- Nightwish – Oceanborn

- Blind Guardian – Tales From Twilight World

- Angra – Rebirth

- Epica – Consign To Oblivion

- Slayer – Reign in Blood

- My Dying Bride – Angel and The Dark River

- The Gathering – Mandylion

- Katatonia – Dance December of Souls

- Alcest – Souvenirs D’un Autre Monde

- Death – The Sound of Perseverance

- Sepultura – Arise e Morbid Visions

- Sarcófago - INRI

 

Tocando com o REVENGIN no Rock in Rio 2022

10 – Deixo espaço para suas considerações finais, muito Obrigado!

Queria agradecer a você Vitor, pelo espaço aqui no blog para falar sobre a Paranoid Existence, Les Mémoires Fall e outros assuntos! E convidar aos leitores que confiram o som da Paranoid Existence e da Les Mémoires Fall, que estão disponíveis em todas as plataformas digitais e se for do seu agrado e quiser, tenho cds e outros merchandising disponíveis. E fique atento por que em 2024 tem novo álbum tanto da Les Mémoires Fall, quanto da Paranoid Existence. Siga as bandas no instagram, assim você não perde nenhuma novidade!

 Spotify – Paranoid Existence

https://open.spotify.com/intl-es/artist/5h6q5glv5JxQbw5wEMVNEB

Spotify – Les Mémoires Fall

https://open.spotify.com/intl-es/artist/2zMVjSfN15j8SOV1YXLwn9

Instagram – Paranoid Existence

https://www.instagram.com/paranoidexistencemetal/

Instagram – Les Mémoires Fall

https://www.instagram.com/lesmemoiresfall/

Por Vitor Carnelossi

CHM - DESDE 2013 



terça-feira, 5 de dezembro de 2023

SOME OF HUMAN PAINS (DISMAL FORESIGHT) – O DISCO DO ANO DO UNDERGROUND PARANAENSE

  


 A banda maringaense DISMAL FORESIGHT acaba de sacudir a cena metal paranaense lançando o extraordinário SOME OF HUMAN PAINS – um verdadeiro e inspirado petardo, que confesso, era aguardado há bastante tempo pois sabíamos que a banda trabalhava a concepção de um novo material, e a espera valeu a pena. Gravado e mixado pela própria banda, com uma ótima qualidade, inclusive,  o que se ouve após uma  intro de muito bom gosto é um repertório com o genuíno brutal death metal executado em altíssimo nível. Marcos Dismal interpreta as faixas com vocais técnicos, muitas vezes alternando tons, ao mesmo tempo que despeja riffs e mais riffs de forma ensandecida, evidenciando o grande guitarrista e vocalista  que é. As linhas de bateria de Fernando Trento são muito ricas tecnicamente, e imprimem peso e velocidade numa execução também digna de elogios. 



    O peso empregado no baixo por Juarez Judas, destacado em vários momentos da  gravação, ressaltam a qualidade e o cuidado de uma execução também precisa, bem dentro do que as músicas pedem, preenchendo em grande estilo a massa sonora que emana de cada faixa. O que  Dismal Foresight nos apresenta em Some of Human Pains é um disco de metal extremo  pesado, intenso, polido, executado de forma avassaladora e impiedosa. É possível distinguir na gravação todos os instrumentos, outro mérito da banda. Ouvindo e reouvindo o disco confesso não me atrever a indicar uma faixa de destaque, pois todas são excelentes, trazendo uma banda madura, coesa e tecnicamente em ótima fase. A parte lírica do álbum também  é muito interessante, versando sobre temas que atormentam o ser humano, demonstradas num encarte e concepção gráfica muito bem elaborados.

    Parabéns ao DISMAL FORESIGHT por produzirem um disco com composições e execuções de tamanha qualidade. O blog Colorado Heavy Metal registra aqui nosso reconhecimento, admiração e respeito por esta grande banda do metal extremo nacional. Haill !!!!

*Por Marcão Azevedo.