domingo, 1 de fevereiro de 2015

ENTREVISTA ASFIXIA SOCIAL

Punk, hardcore, hip hop, ragga, dub, metal, ska...etc! Não cabem rótulos ao som do Asfixia Social, os caras estão no corre desde 2007 e colecionam ótimas iniciativas, como o festival “Da Rua pra Rua”, documentários produzidos no DIY e muita interação no underground, quebrando preconceitos e mostrando que a cultura de rua e o underground andam juntos conversamos com essa banda quem tem muito o que dizer!


Pra quem não conhece, vocês poderiam contar um pouco da história do Asfixia Social?
O Asfixia Social é uma banda formada em 2007 numa conexão da divisa de São Bernardo e Diadema, com uma rapaziada do Belenzinho, Zona Leste da capital. Nessa época, a gente tinha uns 16 anos de idade, e praticamente aprendeu a tocar com as primeiras músicas da banda, que vieram no álbum-demo “A Guerra tá na tua porta, não só em Bagdá!”. A busca era por uma sonoridade diferente, entre rap, ska, punk, hardcore, ragga, metal, e tudo aquilo que a gente curtia ouvir e passou a tocar, somando letras que expressassem nosso cotidiano na periferia de São Paulo.
A galera perguntava se a gente era do punk ou do hiphop. E dessa não-definição, a gente assumiu a nossa própria identidade no álbum “Da Rua pra Rua”. Cultura de rua como estilo de vida, e não estilo de música, como a gente costuma dizer. Daí pra frente, foram vários shows, cidades, estados, festivais, lançamos o DVD ao vivo do “Da Rua pra Rua” (2014), ganhamos alguns prêmios, como o Prêmio da Cultura HipHop 2014, e fizemos conexões com vários projetos sociais nas quebradas. Pra gente é importante pra caramba fortalecer o trabalho de base nas comunidades, que é onde a gente tá em casa.

Sobre o DVD “Da rua pra rua”, vocês poderiam nos contar como se deu a concepção deste projeto?
O DVD “Da Rua pra Rua” surgiu porque a gente precisava de um registro com qualidade do show da banda, porque no disco, não dá pra você imaginar o que é o Asfixia Social, não dá pra visualizar nosso som. A gente fechou então com a galera da Oloeaê Filmes, que trabalha com audiovisual com a gente, e fizemos o Festival Da Rua pra Rua e o DVD ao vivo, tudo independente, na base do faça-nóis-mesmo.

Vocês acabam de voltar de uma tour pelo Nordeste, como foram as apresentações por aí e o que vocês acharam da cena?

Foi absurdamente cabuloso! Desde o primeiro show em Maceió o público abraçou a banda. Tocamos em bar de jazz, na praça, no quintal, na favela, no centro, em evento de rap, de metal e com banda punk hardcore. Não tem nem como descrever, mas a gente conheceu uma cena pequena, que parece uma bomba atômica de tanta qualidade!


O Quintal Cultural de Maceió, o Alternativo S.A. de União dos Palmares, o Casarão das Artes de Recife, são todos o Zumaluma de Embu das Artes. As dificuldades da gente são as mesmas. A luta também. E a gente viu e ouviu só coisa boa: Tequilla Bomb, Boby CH, Biografia Rap, Karne Krua, Lei do Kaoz, Ação Libertária, Mate ou Morra, Quilombola de Zion e por aí vai... Tem um mini-documentário da Tour Nordeste 2014 no nosso site oficial: www.asfixiasocial.com.br




Do que se trata o festival “Da rua pra rua”?
O Festival Da Rua pra Rua começou com a idéia de juntar várias bandas que a gente conheceu ao longo dos anos, e também coletivos culturais que fazem parte do trampo mais social, de militância, e apresentar todo mundo entre si no aniversário de 6 anos do Asfixia Social, que foi em 2013. Também, fazer um festival com uma estrutura legal na nossa própria quebrada aqui em Diadema, trazendo os amigos, os vizinhos, que sempre viram a gente tocar por aí mas que de certa forma não tavam no palco com a gente. Daí, jogamos eles na função de organizar com a gente, de carregar e montar o palco, fazer o corre do som, da luz, da divulgação, do audiovisual, e prestigiar bandas e grupos que nunca viriam aqui pra quebrada se não fosse a nossa própria correria. Virou um evento especial pra todo mundo envolvido, e uma forma de apresentar novas bandas, proporcionar pra elas um material legal, um show legal, um encontro da cultura de rua.


A banda Santa Morte divulgou recentemente uma faixa de seu novo disco que sai em 2015, com a participação do Kaneda, vocal do Asfixia, vocês poderiam nos contar mais detalhes dessa parceria?
O Santa Morte é uma banda que a gente conheceu em 2012, num rolê em que o organizador vacilou com todas as bandas. Eles tavam perdidos numa estrada lá na Zona Norte, e eu demos uma carona pra rapaziada até o show em que a gente ia tocar junto. Apesar do corre, foi legal pra caramba, principalmente porque a gente conheceu a banda dos caras ali. Um dia na Zona Leste o Asfixia Social e o Santa Morte tavam numa dessas discussões, sobre gente babaca que prega a segregação, o separatismo, gente facista e racista, e o Kaneda deu uma opinião sobre como gente assim se esconde na cena Hardcore, e que tem que ser taxativo, tem que ser radical com isso. E nada melhor do que fazer um som e expressar essas idéias e essa identidade nas músicas. O Santa Morte fez isso no disco novo deles, num som pra fortalecer com as nossas raízes, nossas origens e com o nordeste, e convidaram o Kaneda pra fazer essa participação. Da nossa parte, satisfação total, porque a soma ficou cabulosa, o som ficou pesado! O Santa Morte tá cada dia mais monstro, e pra cena hardcore, é uma das melhores referências.

Com o disco e o DVD lançados, clipes e shows, quais serão os próximos passos do Asfixia? Já existe uma previsão para o lançamento do novo disco?
Tá vindo coisa boa aí. Há 2 anos a gente tá trabalhando um disco novo, intensamente, que sai (amém) em 2015, produzido por Marcelo Sampaio e pela TopNoise Produções. É uma parceria que fizemos e acreditamos que será uma surpresa pra cena toda. Enquanto isso, a gente tá indo pra Cuba pra nossa primeira tour na gringa. São 12 shows, e vamos gravar um documentário sobre a cena underground cubana, fechando com um show no maior festival de rua do país, o Romerías de Mayo. Na volta, a gente pretende já estar com o disco novo no gatilho e lançaremos um longa metragem sobre a história do Asfixia Social. Tem trampo pra caramba, mas o que podemos dizer é que tem muita gente legal envolvida, muita gente boa, e que a coisa tá melhor ainda pro nosso lado! rsrs

A marca registrada do som do Asfixia é a diversidade musical da banda, quais são as referências musicais e líricas que os inspiram na hora de compor?
Cada um da banda, dependendo do dia e da hora, tá ouvindo um som diferente. rsrs Punk, dub, eletrônico, ragga, metal, ska, saravá. Acho que nem a gente acredita quando as músicas ficam boas, mas a gente consegue misturar isso aí tudo e fazer um som legal. Acho que pra não sermos redundantes, a gente pode citar KRS One, Macka B, Desorden Público, Melvins, Asian Dub Foundation, Slackers, Cypress Hill, Living Colour, Cólera, José Prates, Seletores de Frequência, Pepeu Gomes, Záfrica Brasil, Olho Seco, bate no liquidificador, rsrs, e por aí vai...

O amadorismo ainda é uma constante no underground, faltam locais pra tocar e boa organização, que caminhos vocês acreditam que podem ser trilhados para uma melhora desse cenário e uma maior valorização da produção nacional?
São questões delicadas, que envolvem não só a cena underground. O músico no Brasil não é considerado trabalhador. Você não tem carteira assinada como músico. Você não recebe seus direitos trabalhistas como músico. E em cada esquina tem um músico. A Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) é uma piada. E quando você tem a música sendo cogitada finalmente como uma matéria escolar, o governo busca professores de educação artistica pra ensinar, e não músicos. No mínimo, a cena underground, independente, e as bandas e músicos que compõe uma pequena parte da cena, têm que se unir e mudar isso. Não dá pra ficar na mão desses caras.
É natural que as bandas busquem sempre melhorar a produção do seu show, do seu material fonográfico e audiovisual, e é natural que as bandas busquem produzir melhores eventos também. Tem que se envolver. Chega um momento, que não vale a pena estar em qualquer palco. O Asfixia Social sempre buscou organizar seus próprios eventos. Aprendemos com isso, caminhamos pra frente, tropeçamos, e seguimos adiante. É assim. Hoje, a gente consegue tocar em lugares menores, em lugares maiores, se adaptar às situações, cobrar o que é justo pra gente, e fazer shows em lugares diferentes, num palco ou na rua, no centro ou na quebrada. Pra gente, o importante é fazer algo que seja honesto com o público, com a banda, com as bandas, e com o nosso trabalho.
Ainda hoje, a gente carece de um bom produtor pra banda. Temos boas opções, mas ainda não econtramos a ideal. Por isso, a gente segue fazendo nosso próprio corre como linha de frente, e isso também tem muito a ver com o fato do Asfixia Social não ter só discurso e música, é ir pra cima, agir, fortalecer e correr pela cultura de rua.

A mensagem por trás do som de vocês é carregada de ideologia de cunho social e protesto, em tempos de muito barulho e pouco conteúdo o quão importante vocês acreditam que seja levar uma idéia forte pra quem ouve o seu som?
Pra gente, o sentido disso tudo é transmitir um sentimento real, uma idéia forte, fortalecer com o pensamento de quem tá na correria, o mano e a mina que ouve o som e sai de casa na batalha do dia-a-dia, uma luta constante contra os extremos mais opressores do sistema. A gente busca ser espontâneo, canta o que vive, e da mesma maneira que tem disposição pra conversa, tamo afim de bater de frente. O Asfixia Social é uma forma de expressar nossa visão de mundo, nossa caminhada, aquilo que pra gente tem que ser prioridade no dia-a-dia. Cada música é uma forma de resumir uma questão, propor mudança, renovação, e de passar uma energia única. É isso que buscamos levar pro palco e pra fora dele.]

O disco “Da rua pra rua” é sensacional, um som peculiar e cheio de personalidade, agora que o Asfixia Social está prestes a lançar um novo play, como vocês avaliam o desempenho desse disco até aqui?
Agradecemos pelas palavras, mano! O “Da Rua pra Rua” se tornou pra gente o cartão de visitas mais especial, o disco que fez a gente transitar e ter voz tanto como uma banda punk quanto um grupo de rap, e principalmente, levar adiante o Asfixia Social. O novo disco traz a essência do “Da Rua pra Rua”, mas uma leitura ainda mais original e uma maturidade da banda que a gente traduziu pra um disco muito louco e coeso. Pra gente, é um divisor de águas na nossa capacidade de criação, em autenticidade e idéia quente, som, letra, métrica e significados. Pode crer que tamo curtindo fazer um trabalho de alto nível pra vocês! É nói!!

Agradeço a atenção  e reservo este espaço pra que deixem registrado o seu salve para os leitores do blog e todos que acompanham o trabalho da banda.
Satisfação total, você que está lendo, ouvindo, assistindo, compartilhando, somando nas idéias  e na correria. Obrigado por fazer parte daquilo que somos. Acessa lá o www.asfixiasocial.com.br, acompanha, espalha pra geral, abra as mentes que puder, entre na mente dos outros, faça da sua vida a melhor que puder, seja diferente quando quiser, reaja e viva, que faz toda a diferença no mundão. Chega junto, que tamo junto! PAZ.



Entrevista por Evandro Sugahara – evandrosugahara1988@gmail.com
Soundcloud CHM-Blog: https://soundcloud.com/chm_blog_underground

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