Músico e Professor, Bacharel em Violão pela UEM , Especializado
em Arranjo Musical pela UEL, Roberto Rezende é um guitarrista atuante de Maringá –PR. Além de seus conhecimentos
profissionais Roberto também conhece profundamente o underground e suas dificuldades.
Contando com sua experiência e visão a frente do ESPAÇO MUSICAL ROBERTO REZENDE ,fizemos uma entrevista bem legal abordando
alguns tópicos referentes aos dia-dia do músico esperando dar uma “luz” em
questões bastante comuns para quem faz parte desse universo.... E é claro que não poderiam alguns temas de cunho pessoal que a galera que frequenta o BLOG tanto gosta!
Confiram navegantes perdidos!
1 - Roberto,
primeiramente é um prazer tê-lo por aqui para trocar uma ideia sobre música!
Você além de músico e professor também presta consultoria. A Classe dos
músicos, em termos regionais sabe valorizar seu trabalho?
O prazer é todo meu, é uma honra mais uma vez poder falar através deste
veiculo de comunicação que valoriza não só a ideologia underground mais também
todo o que envolve ela. Eu acredito que
os músicos de verdade se valorizam sim, a galera que vive realmente disso,
porém anda meio difícil de manter uma postura, principalmente quando o assunto
é rock; Não sei como é em outras localidades, mas em nossa região existe um
número imenso de bandas que preferem não se intitular músicos profissionais e
acabam trabalhando praticamente de graça e dificultam o trabalho daqueles que
vivem para a música.
2 - Como estipular o
preço para uma apresentação, quais os fatores que agregam valor para o cachê de
um músico/banda?
Legal essa pergunta. Durante muito tempo eu
fiquei os bastidores deste tipo de função e negociação em uma banda, mas nos
últimos anos tenho entrado neste meio de cabeça. Estipular um preço é algo
complicado, são vários fatores para analisar, dentre os custos por exemplo; O
músico tem que calcular o custo pré show (Ensaios, Estudos, Deslocamento) ,
Custo do Show (Equipamento disponibilizado, Tempo de show, Equipe) e o Custo
pós- show (Alimentação e outras despesas que possam surgir decorrentes do show).
Tudo isso deve ser colocado na balança e
contra – posto com o tamanho da casa ou evento que você está fazendo contato,
visibilidade da sua banda, viabilidade. As vezes o tamanho da casa ou evento
não possibilita que você cobre um cachê de um valor razoável, mas os lucros não
financeiros são compensatórios
(Visibilidade, Contatos Musicais , Contato com o publico). Então quando
eu vou fechar um show pra mim ou pra minha banda eu sempre penso em todos esses
fatores
3 – Musicalmente falando, nem sempre quem toca melhor é o
mais reconhecido monetariamente... sabendo disso, o que pesa sobre os músicos
que levam sua técnica e conhecimento musical ao extremo?
Ser reconhecido monetariamente envolve mais
do que tocar bem. O músico que deseja
ganhar bem pra tocar tem que desenvolver algumas funções que estão além
do instrumento. Atualmente o músico tem
que dominar Relações Comerciais , Marketing, Edição de Imagem, Áudio e Vídeo
afim de mostrar seu profissionalismo e sua arte. Ou seja, o músico deve ser mais
que instrumentista deve ser um artista e seu empresário. Então ficar apenas
trancado em um quarto estudando , garante que você seja um grande
instrumentista, mais fazer isso dar dinheiro vai depender de como você se porta
em relação a isso.
4 – Quando um aluno chega no ESPAÇO MUSICAL ROBERTO REZENDE
quais são as primeiras músicas a serem abordadas para o estudo da guitarra?
Geralmente eu tento voltar o estudo do
aluno para o universo que ele vive, para as coisas que ele escuta e aos poucos
ir inserindo outros universos para ele, mas geralmente as primeiras músicas
envolvem conceitos como postura de mão direita e esquerda, Acordes maiores e menores e e técnicas como
Palhetada Alternada, então eu sempre abordo coisas do Pop Rock Nacional e
Internacional e Riffs de bandas de Rock
Clássico.
5 – É muito comum os leigos perguntarem qual a diferença
entre tocar a guitarra e violão, nos responda essa pergunta kkkkkkkkkk
Normal e cotidiano, rsrsrsrs. A diferença está na pegada do instrumento, na
forma de produção do som. É muito mais difícil tirar som no inicio do estudo em
um violão do que em uma guitarra. Então fora algumas diferenças da construção e
da produção sonora de cada um (Acústica e Elétrica, tamanho de braço, pegada) a
postura e a técnica são bem peculiares
em cada um deles.
6 - É mais desafiador
ensinar alguém sem experiência alguma na música, ou tirar vícios de que
aprendeu a tocar de maneira “errada”...
É mais desafiador ensinar quem já aprendeu
e adquiriu vícios, uma vez que a pessoa tem pra ela que já sabe muito e só
precisa “aperfeiçoar”, é muito difícil convencê-la de que ela precisa dar
alguns passos para trás. Então esse tipo
de abordagem exigem uma metodologia com mais exemplos a fim de mostrar para o
aluno que muitas das dificuldades dele estão nas etapas que ele pulou ou nos
vícios adquiridos.
7 - Em quanto tempo é
possível passar conceitos básicos da guitarra para um iniciante?
Isso
varia de aluno pra aluno, uma vez que boa parte do aprendizado você desenvolve
estudando em casa, se dedicando diariamente. Mais em geral o conhecimento
básico inicial cerca de 6 meses à 1 ano.
8 – Assim como eu, muitos amigos músicos são “altodidata” e
possuem conhecimento quase “zero” na parte teórica. Há maneiras de desenvolver
a teoria sem voltar ao início do aprendizado, ou estamos condenados ao
“prézinho” dos guitarristas kkkkkkkk
Sim, com certeza. Basta mostrar para o
aluno que a teoria é a base para tudo que ele já sabe fazer. Ao invés de tirar a guitarra e pegar o
caderno, eu tento mostrar na guitarra o que a pode ajudar e facilitar na sua
prática.
9 – O desenvolvimento de um guitarrista segue muitos
caminhos diferentes, faço uma pergunta complexa sendo você um professor de música,
é possível alcançar notoriedade sem estudar escalas e técnicas a fundo?
Inúmeros músicos são mestres em seus instrumentos e
não sabem escrever uma nota. A música é uma arte, não existe uma forma padrão
de se fazer arte, não existe um caminho básico, a teoria e a técnica facilitam
muita coisa, pra todas as pessoas que se propõe a estudar música, porém não
conhecê-las de maneira alguma impede que a pessoa faça música de
qualidade. Como guitarrista eu acho a
técnica do Chuck Schuldiner muito feia perto de outros guitarristas, porém a
sua arte se sobrepõe a tudo isso, colocando a música em primeiro plano.
10- Pra você, quais
são os grandes músicos do Brasil no momento em seus respectivos instrumentos?
Na guitarra eu sou fã de vários músicos
brasileiros, Kiko Loureiro, Ardanuy,
André Nieri, Mateus Assato, Antonio Araujo, Nelson Faria. No violão, Yamandu
Costa, Marco Pereira , Fábio Zanon. No bandolin Hamilton de Holanda, na bateria Eloy Casagrande. Putz, tem mais
uma galera que eu curto muito mas essa lista vai ficar gigante, rsrsrs.
11 – Eduardo Ardanuy ou Kiko Loureiro?
Ardanuy
12 – Puder ver no face que ESPAÇO MUSICAL ROBERTO REZENDE
através de você promove recitais, inclusive em escolas! É muito legal aproximar
a música das pessoas, em especial das crianças não é mesmo?
Faz parte do meu objetivo a frente do
Espaço realizar esses eventos. Eu acho que a comunidade em geral é carente de
boa música e boa parte da culpa disso são dos próprios músicos e pessoas
ligadas a música. E algo meio elitista, tipo como se as pessoas fizessem parte
de um mundinho e não quisessem abrir a porta dele pra ninguém, eu vi muito isso
na Música Erudita. As pessoas consomem o que elas conhecem, as pessoas comem
mal porque é o que lhes é oferecido. Ninguém comeria músculo se a picanha fosse
o mesmo preço, ou pelo menos um pouco mais acessível, com a música é a mesma
coisa, pelo menos pra mim.
Então é muito gratificante
aproximar as pessoas e ver que elas se encontram em universos totalmente
diferente do que lhes são propostos.
13– Gostaria que você nos falasse sua formação musical, e em
qual momento decidiu fazer isso sua profissão!
Eu comecei a estudar violão aos 11 anos de
idade em um projeto do colégio que eu estudava.
Para minha sorte meu primeiro professor foi o grande músico e amigo
Laércio Pinheiro (Lord Holder). Depois me enveredei na guitarra sozinho mesmo e
comecei tocar em bandas de rock alternativo. Aos 16 anos voltei a estudar
violão , desta vez violão clássico, novamente com o Laercio. Aos 18 ele me
convidou a assumir suas aulas em um projeto de oficinas culturais onde ele
seria o meu chefe. Desse momento em
diante resolvi levar a música como minha profissão. Então comecei a cursar
Curso básico e técnico na Escola de Música da UEM, me graduei Bacharel em
Violão pela mesma universidade e depois cursei Pós – Graduação em Arranjo
musical pela UEL. Em meio a tudo isso toquei em várias bandas de Baile, Dupla
sertaneja, Banda de Casamento, Awake, Hyncypyt, Cazuza Cover, Legião Cover e
por ai vai. 14 - É possível ser profissional, mesmo tocando música
underground?
É possível por parte do músico, mais ainda é
difícil por parte do underground.
O público e até os próprios músicos “não profissionais” ainda tem dificuldades de aceitar que você seja
profissional e o que essa decisão acarreta.
Acredito que aqui no Brasil ainda é muito misturado o lance do Estilo de
vida com a Profissão Músico. Se um cara trabalha em um escritório corta o
cabelo e vai de camisa branca todos os dias ao trabalho e no
fim de semana ele vai curtir um show, tudo bem, ele é um “guerreiro”. Se o
músico se veste da mesma forma e toca em uma dupla sertaneja, ai ele já é
traidor, falso. Então essa relação ainda é muito complicada.
15 – A questão dos “promotores de eventos fuleiros” e
“bandas desesperadas para tocar” ainda enfraquece muito o underground, é
possível se “salvar” desse tipo de problema tocando música pesada?
É possível. Basta as bandas se unirem e
assumirem uma postura profissional, exigir equipamentos de qualidade, cachê e
tudo que um músico profissional tem direito, mas ai entra um problema muito
grande, a política e ideologia Underground, onde as bandas não se unem por
problemas ideológicos, panelinhas e entre outros fatores. Dessa forma os
espaços para tocar e o público diminuem, as bandas aumentam e o espaço para a
fuleiragem fica aberto.
16 - Como uma banda autoral deve se organizar para uma
gravação em estúdio?
Quando gravamos “Desespero” com o Hyncypyt,
eu percebi o que era a pré-produção.
Ensaiávamos e compúnhamos sem nos preocupar com o que seria possível
gravar e daí durante a gravação tivemos alguns contra-tempos que atrapalharam
um pouco o rendimento do trabalho. Então
acredito que toda banda deve antes de entrar em estúdio ter a composição e o
arranjo da música bem formatado, de preferência transcrito. Ensaiar tanto individualmente
quanto coletivamente utilizando o metrônomo , definir o timbre e equipamentos
que pretende usar na gravação e acima de
tudo respeitar as capacidade técnicas de cada músico, gravando aquilo que sabe
tocar. Acho importante procurar um profissional para ter uma outra visão do
trabalho pessoal.
17 – O Abismo entre a música comercial e underground é quase
intransponível. É interessante ver que as bases musicais também foram
segmentadas ao underground no Brasil:
Jazz, Blues, Country, R&B, tudo isso é estranho as grandes massas...
Como você analisa o atual momento musical do Brasil?
E interessante essa analise, pois
antigamente achávamos que apenas o Rock estava nessa base da pirâmide, mas hoje
vemos inúmeros estilos musicais neste nicho.
Eu acho que ser underground não é um problema, acho até que existe
graças ao advento da tecnologia uma facilidade de alcançar pessoas que se
interessam a esse tipo de musica não comercial.
O que a galera tem que entender e que não ser comercial, não quer dizer que é ruim, que é de graça, que
não é profissional. Vejo nos estilos
citados por você que muitos deles mesmo sendo do submundo musical produzem
material e eventos de qualidade,
utilizam as mídias digitais com inteligência e tem uma postura profissional, transformando
seu trabalho em arte e não em mero produto visando o grande público , acho que
essa visão ainda falta ao Rock.
Em geral acho que o
momento musical é bom, possibilitando visibilidade para qualquer um dos lados
citados e que muitas vezes essa barreira instransponível é algo que deve
permanecer assim , separando o entretenimento da arte. O que não quer dizer que
não se deva divulgar o Underground visando a sua expansão de forma qualitativa.
18 – Em quais o projetos/bandas você está no momento?
Atualmente
faço freelancers e toco com a banda Válvula XXI (Hard Rock Cover) e me dedico
as aulas no Espaço Musical
19 – Indique algum(s) disco que você considere fenomenal na
guitarra!
Acho Simbolic do Death uma obra Prima,
Bases Lindas , Solos Melódico e virtuosidade na medida certa. É meu disco favorito
20– Agradecemos imensamente sua participação no blog
COLORADO HEAVY METAL, deixo espaço aberto para suas considerações finais!
Eu que agradeço o espaço e a oportunidade de falar e mostrar
as minhas idéias sobre esse mundo que eu respiro todos os dias.
Quero parabenizá-los pelo blog e dizer que
acho muito interessantes este tipo de trabalho que foge um pouco das bandas e
mostra um pouco do músicos por trás delas.
Muito obrigado e até a próxima!
Por Vitor Carnelossi
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Editor responsável - Vitor Carnelossi
Excelente matéria! Marcão Azevedo.
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