Nosso convidado de hoje é o grande guitarrista Rogério
Meanda, músico conceituadíssimo na cena musical brasileira, tendo gravado e
trabalhado com grandes nomes da MPB e do rock brasileiro. Sendo o talento
cúmplice da versatilidade, Rogério (ou Roger) Meanda pode ser aquela guitarra
pirada que você ouve em alguns trabalhos de artistas como Gal Costa, Lenine,
Flávio Venturini, entre outros, pois seu estilo próprio e sua técnica apurada o
credenciam a figurar nas fichas técnicas de alguns dos maiores trabalhos da
música brasileira ao longo das últimas três décadas. Rogério Meanda atendeu ao
ColoradoHeavyMetal de maneira muito cordial, e aceitou conversar com nosso blog
para que nossos leitores conheçam um pouco mais de seu brilhante trabalho, bem
como sobre um capítulo particular e histórico na música brasileira, que foi a
gravação de Exagerado, primeiro disco solo do Cazuza. Prontos para uma descarga
de talento?? Então vamos lá!
-Rogério, revisitando o passado, hoje sabemos que seus poderosos riffs na
introdução da faixa Exagerado, do
Cazuza, seria a trilha sonora que marcava então um novo marco da música
brasileira, pois Cazuza, um jovem e
talentosíssimo vocalista e letrista rebelde e pirado dava, a partir daí, seus
primeiros passos para entrar para a histórica da Música Popular Brasileira, com
o merecido status de poeta. Sendo você o músico que despejou tais riffs, qual
sua reflexão sobre este processo?
-Para gravar o disco Exagerado, você foi recrutado pelo
produtor Nico Rezende para compor uma espécie de ´´tropa de choque´´ de músicos competentíssimos, e o resultado
foi magistral. Quais recordações você tem deste período, da convivência e
das gravações intensas?
-Você também assina um trabalho autoral de qualidade, em
faixas como Medieval II, que ´é um tesouro que passou batido pela grande mídia
(e tem um dos melhores trampos de guitarra da música brasileira que já
ouvi....), e várias faixas do disco Só se For a Dois, todos trabalhos ainda com
o Cazuza. Qual a importância e como você se identifica com a poesia marginal?
Agradeço os gentis e generosos elogios! É
claro que tenho um grande orgulho de ter tido a chance de trabalhar com o
Cazuza , ele era um enorme , IMENSO talento , além de um ser humano muito
especial ! Quanto ao que você se referiu como “poesia marginal” , eu acho que o
que difere os trabalhos artísticos e o que pode classificá-los ou não como
legítima “arte” é uma questão de postura , é o artista estar disposto a fazer ,
escrever , cantar , tocar o que realmente quer , aquilo que vem do fundo do seu
coração , independente das conjunturas vigentes estando ele ( ou ela ) disposto
a arcar com o ônus e com o bônus de suas escolhas . Isso é uma luta de toda uma
vida , é algo a ser conquistado dia a dia , e , mesmo sendo necessário que se
faça algumas concessões para se ganhar a vida , sempre haverá uma forma de se
imprimir , de uma forma ou de outra , em
cada manifestação artística , um pouco dessa verdade intrínseca aos verdadeiros
artistas . É dessa forma que eu descreveria a minha identificação com a “poesia
marginal” , é algo com que continuo a sonhar e que tento buscar a cada dia da
minha vida , a cada vez que tento compor ou tocar alguma coisa .
-Você gravou as guitarras para o disco Mediterrâneo, da
Vanessa Rangel, que teve uma grande aceitação pela crítica, tanto no quesito
voz quanto instrumental, e dentre várias
faixas que se destacaram, temos Palpite.
Uma linha de trabalho bem consonante com o refino e sutileza típicos da
MPB. Como você avalia o atual patamar da legítima Música Popular Brasileira?
Grande Vanessa Rangel , talento
IMENSO ! Até hoje lamento profundamente ela ter se afastado da vida artística .
Acho que a MPB passa por um processo que é , na verdade , um processo mundial
de reestruturação diante da revolução tecnológica que vivemos nesse momento ,
principalmente no que diz respeito à indústria da musica , acho natural que o
processo artístico musical , nas suas mais variadas formas , leve algum tempo
para absorver , digerir e se organizar , produzindo e nos oferecendo assim ,
grandes obras . Esse , mais aparente do que real hiato , está ligado , a meu
ver , dentre muitas outras coisas , `a dificuldade do mercado musical se
reorganizar através das novas formas de se chegar ao grande publico . Pois a
imensa quantidade de oferta de artistas que a internet propicia , não
apresentou , ainda , uma forma clara que substitua as grandes multinacionais do
disco , que , apesar das obvias distorções , eram quem se encarregavam de
fazê-lo . Mas eu acho a MPB rica demais para que possamos afirmar que , não
obstante o momento complicado sob alguns aspectos por que passamos , ela tenha
, de fato , se empobrecido, como alguns propagam . Mas acho eu teria que
escrever um livro para abordar todas as nuances que envolvem essa questão,
históricas e culturais . Acho que só o
tempo se encarregará de mostrar a verdadeira face da nova MPB .
-Como músico, você de identifica mais gravando em estúdio ou
tocando ao vivo? Por quê?
Me identifico com
ambas as situações , acho que cada uma tem um “ sabor “ específico . É bem
verdade , que com o surgimento de tantas
ferramentas de edição que as atuais plataformas de gravação propiciam ,
uma boa parte da alma de uma sessão de gravação corre o risco de se perder e
dar lugar a grandes “ editores de áudio “
ao invés de dar lugar a “ grandes músicos “ , mas isso depende do gosto
e das possibilidades de cada um , sempre haverá , a quem interessar possa , a
possibilidade de se preservar o que se julgar “saudável” dependendo das circunstâncias
de cada produção . Acho que quando se está gravando em estúdio há um
compromisso intrínseco com a história e com a posteridade , e se tem a
oportunidade de uma elaboração mais aguçada .
Já ao vivo , fica mais fácil de se perceber , como eu costumo dizer , “
Quem é do ramo “...rsrsrs....E fica fácil de se perceber , por menor que seja a
participação de um musico , as suas qualidades como instrumentista e/ou cantor
, e essa “ verdade “ é , a meu ver , um fator importante para salvaguardar a
evolução da “ boa musica “ como um todo . Soar bem , preciso e afinado numa
apresentação ao vivo requer um comprometimento profundo com a musica , em
inúmeros aspectos , e isso torna esse tipo de experiência um desafio constante
e muito atraente para músicos que pensam constantemente em evoluir , dentre os
quais me incluo .
-O Rock ´n Rio de 1985 colocou o Brasil no circuito dos
grandes shows mundiais. Você acredita que isso também contribuiu para a
evolução dos músicos enquanto profissionais, de fato, a ponto de hoje termos
músicos brasileiros sendo contratados ou fazendo testes para grandes nomes da
música mundial, nos mais diversos estilos?
Sim , com
certeza . Nada se compara a experiência de ter ali , na sua frente , diante dos
seus olhos , a presença de um grande musico ou ídolo executando performances de
alto nível num evento onde aspectos fundamentais no mundo da musica são
cuidadosamente observados , isso instiga os músicos a evoluir, e o surgimento do Rock ‘ in Rio em 1985
diminuiu consideravelmente a distância , que até então existia , entre o show
business mundial e o brasileiro , aproximando os músicos brasileiros do resto
do mundo e instigando-os a crescer e evoluir .
-A Blitz, lendária banda carioca, recrutou você como
guitarrista. Escrevem, assim, mais capítulos em toda nostálgica e saborosa
história do rock brasileiro dos anos 80.
O quanto você tem curtido estar na banda e reencontrar os fãs de toda
uma época?
-O que a música brasileira ainda pode esperar do Rogério
Meanda? Projetos ou novos
trabalhos à vista?
Existem vários projetos e idéias em andamento
e ,no momento propício , será um prazer compartilhá –los com vocês
aqui do Blog . Pretendo continuar ,
humildemente , a contribuir para que a musica e a arte no Brasil ocupem cada
vez mais espaço .
-Rogério, o blog ColoradoHeavyMetal agradece sua preciosa
contribuição, quer por compartilhar com nossos leitores sua vivência, quer pela
simpatia e atenção dispensados desde nosso primeiro contato. Como sabe, citamos
você na matéria ainda em 2015 sob o título ´´artistas pop e suas faixas heavy
metal´´ pois seu trabalho de guitarra sempre nos impressionou. Parabéns pelo
seu talento e profissionalismo, e deixamos este espaço para suas considerações
finais:
Por Marcão Azevedo
EQUIPE COLORADO HEAVY METAL, DESDE 2013 FAZENDO A DIFERENÇA!!!!!!