“Parabéns Carlos, li a entrevista aqui e ficou além das minhas expectativas! Mais importante do que "curtidas" é que estar caminhando ao lado de quem admiro, isso é o mais satisfatório! Por mínimo que seja, fazendo algo para ajudar me sinto parte da engrenagem!”
Com essas palavras agradeci o grande Carlos Lopes, uma pessoa atarefada com as diversas ramificações artísticas que desenvolve, mais solicito, educado e humilde com quem lhe procura!
NO RADAR hoje tem a honra desse bate papo rápido e extremamente importante, o esse nome que dispensa maiores comentários, porta voz da seminal e genial DORSAL ATLÂNTICA
1 – A musicalidade da Dorsal
Atlântica é maravilhosamente transgressora no sentido de nunca se acomodar
dentro do gênero musical estabelecido pela própria banda. Como você “encaixa”
“Canudos” dentro de sua discografia?
Meu
melhor trabalho na carreira da Dorsal Atlântica.
O
entendimento e a aceitação de toda criação artística “descem redondo” quando
não se confronta o público, quando o artista entrega ao seu público o que
pretensamente ele “parece querer”. Há vários códigos de grupos: cabelos
compridos para roqueiros, cordões para rappers, chapéus de palha para
sambistas, etc. É a forma de através do qual se abrem portas com o gestual, a
roupa, a sonoridade, a mensagem, e por aí vai. Mas por ser artista, da forma
como eu vejo e vivo, os códigos não podem se sobrepor à obra. O meu público de
seguidores musicais, obviamente, é de adoradores de rock pesado, mas por
considerar que eles esperem mais de mim do que de uma banda seguidora de
normas, o diálogo é mais maduro e o entendimento também. A força do não-conformismo. Artes só fazem
sentido quando servem de certa forma para abrir as mentes, (des)educar as
pessoas e elevar o nível o deslocando do lugar-comum e da zona de conforto. Mas
mesmo dentro do mundo do rock pesado, as bandas e público já foram tomados por
mentalidades de sucesso, likes, E quando digo isso não quero contribuir para
mais verdades-absolutas como a arte clássica é mais digna que a popular, que
funk é uma droga e que rock é uma música superior... E
sendo assim, minhas opções estéticas, musicais e líricas nunca foram tomadas
para agradar, mas para marcar território, tudo em prol do estudo, da
independência e do discernimento. Ser independente até mesmo da cena
independente. E como isso seria possível?
Sendo brasileiro, mesmo sabendo que os brasileiros colonizados e
globalizados são incapazes de entender.
2 – Desde o retorno com a regravação
do clássico “Antes do Fim” (Antes do Fim, Depois do Fim) as novas músicas estão
sendo compostas na língua portuguesa. Então lhe pergunto; É importante ser
ouvido e compreendido pelo público Brasileiro?
Principalmente nos 3 últimos álbuns: 2012, Imperium e Canudos, a mensagem
é radicalmente brasileira. São discos sobre história e política, os mesmos
temas que abordo em minha revista em quadrinhos Tupinambah. E te contando isso,
ao mesmo tempo estou descartando ter uma carreira no exterior porque o que
interessa é o meu país. E friso: o MEU país e não o país da devastação da
Amazônia e da discriminação.
Quando fundei a banda
em 1981 eu tinha como objetivo criar, desenvolver uma leitura brasileira do
rock pesado estrangeiro. Claro que essa visão foi amadurecendo com a estrada,
com as mudanças internas e externas, mas nada disso me tornou palatável para a
indústria nascente. Não havia gravadoras para lançar as bandas novas em 1983
por exemplo... banquei meu primeiro disco assim como banquei minha primeira
revista em quadrinhos. E durante esse processo contei com o público em várias
oportunidades-chave tanto nos permitindo tocar no festival Monsters of Rock em
1998 como voltar a gravar em 2012.
3 – Quando se fala em Dorsal Atlântica,
muito se fala no conceito das letras, pois você sempre exímio escritor. Mais em
termos de instrumental, quais suas ideias e referencias nos dias de hoje?
Não
tenho muitas referências a não ser as que me influenciaram quando eu estava na
transição de criança para adolescente. Por isso os Beatles foram e ainda são
muito importantes em minha formação. Eles são como a minha Bíblia. Ontem mesmo,
um apoiador me disse que tentou tocar nossas músicas por anos, mas que eram
muito difíceis... Ele está certo, não é fácil, é um pouco intrincado porque é
muito personalista. Até hoje, a maioria dos guitarristas não consegue tocar o
riff de Caçador da Noite, mesmo que esses guitarristas toquem Steve Vai. E por
quê? Porque tem um “suingue” na execução do riff que a maioria dos músicos de
metal não se importam em aprender. Curioso, não é?
4 - Alguns discos da Dorsal Atlântica
estão fora de catálogo, é possível algum relançamento em comum acordo com a
banda?
Possivelmente
sim, mas há que haver investimento, talvez através de uma campanha de
financiamento. Temos pensado em relançar o Dividir e Conquistar copiado e
masterizado da fita de rolo original. Mas como disse o investimento é alto. Um
dos motivos, se não o maior, que deu fim à banda em 2000 é exatamente não termos
podido sobreviver da venda de nossos álbuns e shows. Um assunto delicado, que
muitos na cena de metal, não gostam de refletir sobre é que só há bandas
grandes – com toda a estética possível (cabelos, tatuagens, roupas pretas,
satanistas inclusive) – porque há investimentos grandes. Não é a música e as
idéias que te fazem crescer, mas a repetição de fórmulas financiadas a um custo
alto, financeiramente falando, feitos em ambientes considerados “alternativos”,
“underground” e de subculturas. No fim das contas, tudo é negócio. “Vida de
gado, povo marcado, povo feliz...”
5 – Além da parte musical, da
inserção como escritor, você ainda está à frente de alguns trabalhos como
ilustrador de História em quadrinhos de sua autoria e direção! O Que podemos
esperar dessa simbiose artística que sempre reinventa Carlos Lopes em tempos
modernos?
O meu primeiro sonho foi ser desenhista de quadrinhos. Desde cedo alguns
trabalhos meus foram publicados em jornais infantis nos anos 1970, mas eu não
me empenhava tanto... Aí quando descobri os Beatles com uns dez a doze anos,
abandonei os desenhos e me tornei guitarrista. Só vim a desenhar de novo
durante a gravação do CD 2012 da Dorsal Atlântica. Eu já estava de saco cheio
de música, do ambiente musical e relembrei do meu antigo sonho de ser
desenhista e a partir de 2015 decidi que era o que queria fazer. A escolha
natural para entrar nessa nova jornada era contar a história da banda em
quadrinhos. Da minha maneira, de forma lúdica, sem copiar quem quer que fosse,
nos desenhos e no texto. A História em Quadrinhos sobre a Dorsal foi relançada
em 2019, agora colorida e com papel de alta qualidade. A realização de um
sonho!
No momento, estou trabalhando na revista Tupinambah 2 e pretendo
disponibilizar quase todo o meu acervo musical, da Dorsal; Mustang; Usina Le
Blond e meu trabalho para crianças na rede em 2020. Há muita coisa a ser
feita...
Por Vitor Carnelossi
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Editor responsável - Vitor Carnelossi