CHM
– Você participou da formação do Tumulto como o baixista que gravou o petardo
Conflitos Sociais. Como se deu aquela formação e a gravação deste clássico do
underground paranaense?
Ronildo Pimentel - Em
1991, tinha acabado de sair da minha primeira banda chamada Caos Nuclear,
quando fui apresentado ao Márcio Duarte (baterista) pelo Nilton Bobato,
vocalista do Morthal e abrimos um diálogo. Ele conhecia o Maurício, que na
época planejava ser baixista, mas aceitou mudar para a guitarra, pois já
dominava bem as seis cordas do violão e virou maestro. Os primeiros ensaios até
tentamos um outro integrante, inclusive eu no vocal, mas não deu certo. Então,
num show do Cólera em Foz, encontramos o Paulão que topou fazer o teste no
vocal. Encaixou dentro da proposta. Num segundo momento começamos a discutir um
nome, daí tive a ideia de buscar no dicionário em inglês e numa das sugestões
que anotei, o Maurício chamou a atenção para Tumulto, tradução de um dos nomes
selecionados. Pegamos firme nos ensaios e logo em seguida a estreia com 4 sons
próprios e 4 covers, set curtinho. No final tivemos que repetir tudo. Ao final
daquele ano recebemos o convite do Bobato para gravar o split LP, um lado
Tumulto e outro Morthal. E o mais legal, é que encaixou do Redson Pozzi, fundador
e lenda do Cólera (em memória), conduzir as gravações e a produção. A captação
do instrumental fizemos em duas noites com muito café, mesmo tendo que acordar
de madrugada para trabalhar normalmente.
CHM – Pude assistí-lo ao vivo nos anos 90 durante o FEMUCIC onde vcs colocaram o ginásio Chico Neto abaixo. Que lembrança tens deste período-evento?
Então, apesar do pouco
tempo para a gravação, a banda tinha uma química muito legal ao vivo. O
repertório saía mais rápido e agressivo e, como cantávamos um português bem
claro, apesar da pancada, a aceitação foi muito legal. Aquela vez do FEMUCIC
foi uma surpresa, nosso maior público até então e, de repente, a galera
simplesmente veio para a frente do palco ensandecida, bem ao estilo. Ainda hoje
lembro com muito carinho daquela noite com muitas bandas, o que levou todos
fazer sets curtos, no máximo 25 minutos. Mas foi incrível, até porque
conhecemos muitas pessoas e bandas do país.
CHM
– REAÇÃO QUÍMICA é sua atual banda –
pude conferir trechos de sons bem responsa. Qual é a formação e influências?
Sim, Reação Química. A
banda tem mais de 10 anos, foi fundada pelo Giovani Fagundes, o Lixo (vocal).
Quando voltei para Foz em 2018, ele me convidou, faziam basicamente covers de
bandas punks dos anos 1980. Minha estreia com eles foi no primeira Megarock,
que reuniu Cólera, Replicantes, os mestre do metal Korzus e uma renca de bandas
locais. Foz sempre teve uma tradição de bandas de vários estilos. Uma das
condições para permanecer na Reação foi o lance de investir em repertório
próprio. No começo não foi fácil, mas hoje dá para dizer que a parada
deslanchou e estamos num caminho com influências de Punk Rock, HC, Crossover,
quase um ThrashCore. A formação atual, além do Lixo e eu no baixo, tem o Ratão
(guitarra) e o Carlos Ivan Misty (bateria).
CHM
- O material postado pela banda nas
redes sociais é bem profissional – sons em estúdio – etc... – Mostra uma banda
coesa formada por músicos experientes. Como está a cena no oeste do Estado? Tem
rolado eventos? Vcs tem tido espaço para tocarem ao vivo?
Em relação a qualidade
das gravações, deve-se a dois fatores, galera experiente, que já tocou em
várias bandas e o estúdio bem qualificado. Ah, o detalhe é que gravamos ao
vivo, ou seja, valendo todos os instrumentos. Aqui em Foz do Iguaçu e na região
tem rolado bons e variados festivais, muitos bares abriram as portas para
bandas de rock em geral. O nosso maior problema com as apresentações ao vivo é
com relação ao tempo mesmo, como todos tem suas vidas profissionais, família,… filhos
e netos, no meu caso, não conseguimos conciliar sempre os horários. Mas vamos
fazendo, com amor pela música, sempre.
CHM – A crítica ao sistema, o contestatório, a revolta contra o meio são marcas bem latentes do rock, principalmente punk rock, hardcore e crossover. Comente sobre isso.
Ah, quanto a isto, é isto
mesmo. Não dá para você se propor a fazer um som agressivo sem contestar as
coisas como elas estão postas, simplesmente aceitar as regras e ideologias
goela abaixo. Acho importante ressaltar a questão social, as mazelas, o amor
entre as pessoas sem distinção, situações do dia a dia, tudo bem atemporal.
Quem tiver interesse pode buscar nas redes sociais, a Reação Química tem perfis
no Youtube e Facebook.
CHM
– Você já viajou para vários países. Qual sua percepção sobre a cena
underground brasileira em relação América do Sul e Europa?
A maioria das minhas
viagens é a turismo, mas, claro, sempre acaba percebendo e encontrando
informações (cartazes) e apresentações ao vivo. Acredito que em alguns países
da América do Sul, em especial Chile e Argentina, existe um apoio mais
explícito às bandas, com estrutura. Aqui no Brasil, só tem as coisas quem
consegue comprar, sempre foi assim. Na Europa tem a questão do apoio
institucional (inclusive poder público), tanto que é comum se deparar com
bandas tocando em praças, parques, calçadões. A cultura underground ela
acontece a partir do submundo, podem barrar um período, mas não para sempre. E
isto engloba todos os estilos e gêneros musicais. Neste ponto, a internet abriu
os horizontes para todos.
CHM
– Qual o momento e projetos do REAÇÃO QUÍMICA?
No momento estamos
fechando o primeiro set mais completo da banda, uma hora de repertório com pelo
menos 80% dos sons autorais que, que é o verdadeiro foco da banda. Com a ajuda
da internet, coloca a galera a cantar junto nas apresentações e nada se compara
a subir num palco e mostrar algo que você criou do zero, sem desmerecer os
covers, que são muito legais para entrosar a galera da banda.
CHM
– Nesta região do Estado de onde falo contigo no eixo Maringá Londrina a cena é
bem ativa com eventos semanais – pois são centros grandes com espaços
específicos e duradouros. Poderemos ver o REAÇÃO QUÍMICA despejando sua
sonzeira por aqui?
Caraca, seria incrível.
Na época do Tumulto, fizemos apresentações em Londrina e depois em Maringá, com
recepções incríveis. Gostaríamos muito de fazer nossa primeira tour um pouco
mais extensa passando pela região de vocês, assim como trazer bandas daí para
se apresentar aqui. Em Foz é muito bacana, sempre rolam festivais com bandas do
Paraguai e da Argentina também, uma bela integração underground sem fronteiras.
CHM – Espaço para suas considerações finais.
Muito importante este
espaço para falar de música, de cultura e constatação, debater ideias, sem o
confronto pelo confronto. Longa vida ao CHM.
*Por Marcão Azevedo.
Um estímulo a todos nós
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