A seção NO RADAR de hoje conta
com a participação da banda HERETICAE (Londrina - PR), em atividade desde 2014 fazendo um
trabalho singular e muito interessante! Batemos um papo sobre o mais recente
trabalho, “Ecos do Atlântico”, que é sem dúvidas um belo material que precisa
ser conhecido por quem gosta de uma sonoridade repleta de peso e envolto de um
tema conceitual instigante.
1 – O HERETICAE lançou seu
primeiro trabalho intitulado “Ecos do Atlântico”, qual a sensação da banda em
relação ao seu trabalho de estreia e como estão trabalhando na divulgação!?
‘Ecos do Atlântico’ é nosso
primeiro álbum, não foi nosso primeiro trabalho propriamente dito – temos um EP
e um single lançados em 2017 e 2015, respectivamente. A sensação da banda como
um todo, assim como o retorno dado por nossos amigos/as mais próximos, foi de
grande satisfação com o resultado. Foi um trabalho longo, feito da maneira mais
acessível para nós quatro em questão de tempo e de dinheiro, e sabemos que
fizemos o melhor que podíamos com o que tínhamos.
A divulgação, por conta da
quarentena, tem ocorrido exclusivamente via internet até o momento – por redes
sociais e por e-mail. Nossos amigos/as e parceiros/as têm ajudado da melhor
maneira que lhes é possível, e já conseguimos um bom alcance pelo Bandcamp.
2 – De início um ponto que chama
atenção é a abordagem de um tema totalmente ligado as raízes da América do Sul.
Algo muito bem elaborado e conectado com o nosso passado ancestral. Gostaria de
saber um pouco da elaboração desse conceito, podemos dizer que “Ecos do
Atlântico” é um disco conceitual?
Sim, é um disco conceitual. Desde
o início foi projetado para ser, e tudo o que viemos fazendo no último ano gira
em torno de seu conceito.
O conceito se formou através de
ideias e reflexões que nós tínhamos em nossas conversas. Cristiano, Cleverson e
eu (Dalton) somos amigos há bastante tempo, e sempre que nos encontramos, a
ideia vai longe, por assim dizer, rs. Nossos posicionamentos políticos e ideais
de vida e sociedade quase sempre são o centro de nossas conversas, e com
certeza os anos de trocas de experiências refletiram na proposta desse
trabalho. O Chico (baterista) entrou um pouco mais tarde na banda, nos idos de
2018, mas por mais que a ideia já estava consolidada, suas visões certamente
somam com o todo da banda também.
Cabe ainda mencionar o fato do
Cleverson ser afro-brasileiro, e o Chico e eu sermos descendentes de indígenas,
o que foi um pilar central na consolidação da ideia do álbum. Por fim,
basicamente, decidimos voltar os olhos à nossa história, à história dos povos
colonizados e escravizados das Américas, ao invés de seguir as ideias das
bandas europeias do mainstream do metal.
3 – Seguindo, acredito o
conceito, a banda também tem outro fator muito bem-vindo ao Underground
Brasileiro, que são as letras em português. Por incrível que possa parecer, as
bandas que cantam em português no Brasil, ainda têm certa resistência por parte
de alguns tradicionalistas. O que é para o HERETICAE não abrir mão de sua língua
pátria?
Essa foi outra decisão que se
desenvolveu ao longo de meses, que faz parte do conceito do álbum, mas ainda é
algo “maior” do que ele. Posso afirmar que o ponto de virada nisso foi a passagem
de Rômulo Machado na banda (final de 2017 ao início de 2018). Ele, que já tinha
um projeto solo chamado Iamí, já fazia músicas em português se tratando de
temas similares ao que adotamos. Nesse sentido, suas contribuições foram
importantíssimas, por mais que sua passagem na banda tenha sido breve. A partir
disso, transcrevi a letra da então ‘Não Servirá!’ para o português, e em
seguida escrevi, com ajuda do próprio Rômulo, a letra da ‘A Ferro e Fogo’.
Assim, desenvolvendo cada vez
mais a ideia do álbum, e procurando conhecer da melhor maneira possível questões
ligadas à imperialismo, resistência anticolonialista e posteriormente até mesmo
fascismo, assumimos a escolha do português como uma escolha política – afinal,
pouco sentido faria falar de luta anticolonialista em inglês, a língua que mais
representa o imperialismo em nossos tempos. Entretanto, para além da política,
apreciamos a beleza da língua portuguesa brasileira, e pessoalmente posso dizer
que é maravilhoso descobrir o leque de possibilidades de escrita que ela
oferece.
4 - “Ecos do Atlântico” tem uma
gravação bem legal e bastante referências musicais! Cabe a nós, ouvintes
escutar e termos nossa interpretação. Porém, gostaria de saber quais são as
referências musicais da banda e como funciona o processo de composição!
Para ser bem sincero, são tantas
referências que é difícil dizer. Acho que os pilares centrais de nossas
influências como fãs de música pesada são Sepultura (por parte do Cleverson e
Chico) e Behemoth (por parte do Cristiano e eu), porém estaria mentindo se
dissesse que as influências para esse trabalho se limitam a apenas ao gênero do
metal.
O processo de composição é
igualmente complicado de explicar. Todas as músicas tiveram a mão de todos da
banda, e muitas delas ainda tiveram a mão de ex-membros. Quanto às que compomos
só entre nós quatro, cada uma saiu de um jeito diferente: teve música que saiu
de dentro de outra música, teve música que um de nós chegou com a estrutura
“pronta” e só acertamos os detalhes em conjunto, teve música que saiu espontaneamente
entre um riff e outro.
O caso mais bizarro que vale a
pena comentar foi o da ‘A Cruz e a Águia’. Ela foi uma das primeiras
composições dessa nova leva, feita de uma forma totalmente espontânea em uma
tarde na casa do Cleverson, muito antes do Chico entrar na banda. Mas
praticamente a esquecemos ao longo dos meses! Tanto esquecemos que mal a
ensaiamos antes de entrar em estúdio para gravar a bateria. Resultado: o Chico,
com ajuda do Cleverson, praticamente compôs a linha da bateria dessa música na
hora da gravação, hahaha. E, mesmo após isso, eu fui terminar a letra
literalmente na noite anterior do dia em que eu gravei as vozes. Foi tudo feito
de uma maneira totalmente espontânea.
Enfim, a regra principal foi: não
existe regra, rs.
5 – Quais as próximas metas da
banda, o que podemos esperar do HERETICAE!!!! Agradeço imensamente, o espaço é
de você, obrigado!
A meta até então é esperar a
quarentena acabar, haha. Enquanto isso, tá rolando divulgação online.
Entretanto, antes da pandemia estourar, estávamos engatando o início da
gravação de outro clipe – cujo roteiro já está pronto, inclusive –, estávamos
tirando do papel o planejamento de uma turnê de divulgação, e também há algumas
novas composições surgindo já. No mais, estamos aguardando a situação de
calamidade nos dar um horizonte melhor pra retomar esses planejamentos. Saudade
de tocar é o que não falta.
Por fim, muito obrigado pelo
espaço em seu blog! Foi um prazer responder à essa entrevista.
Valeu!
Por Vitor Carnelossi
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Desde 2013 produzindo matérias e entrevistas para grande rede.
Editor responsável - Vitor Carnelossi