Punk, hardcore, hip hop, ragga, dub, metal, ska...etc!
Não cabem rótulos ao som do
Asfixia Social, os caras estão no corre desde 2007 e colecionam ótimas
iniciativas, como o festival “Da Rua pra Rua”, documentários produzidos no DIY
e muita interação no underground, quebrando preconceitos e mostrando que a
cultura de rua e o underground andam juntos conversamos com essa banda quem tem
muito o que dizer!
Pra
quem não conhece, vocês poderiam contar um pouco da história do Asfixia Social?
O Asfixia Social é uma banda formada em 2007 numa conexão
da divisa de São Bernardo e Diadema, com uma rapaziada do Belenzinho, Zona
Leste da capital. Nessa época, a gente tinha uns 16 anos de idade, e
praticamente aprendeu a tocar com as primeiras músicas da banda, que vieram no
álbum-demo “A Guerra tá na tua porta, não só em Bagdá!”. A busca era por uma
sonoridade diferente, entre rap, ska, punk, hardcore, ragga, metal, e tudo
aquilo que a gente curtia ouvir e passou a tocar, somando letras que
expressassem nosso cotidiano na periferia de São Paulo.
A galera perguntava se a gente era do punk ou do hiphop. E
dessa não-definição, a gente assumiu a nossa própria identidade no álbum “Da
Rua pra Rua”. Cultura de rua como estilo de vida, e não estilo de música, como
a gente costuma dizer. Daí pra frente, foram vários shows, cidades, estados,
festivais, lançamos o DVD ao vivo do “Da Rua pra Rua” (2014), ganhamos alguns
prêmios, como o Prêmio da Cultura HipHop 2014, e fizemos conexões com vários projetos
sociais nas quebradas. Pra gente é importante pra caramba fortalecer o trabalho
de base nas comunidades, que é onde a gente tá em casa.
Sobre
o DVD “Da rua pra rua”, vocês poderiam nos contar como se deu a concepção deste
projeto?
O DVD “Da Rua pra Rua” surgiu porque a gente precisava de
um registro com qualidade do show da banda, porque no disco, não dá pra você
imaginar o que é o Asfixia Social, não dá pra visualizar nosso som. A gente
fechou então com a galera da Oloeaê Filmes, que trabalha com audiovisual com a
gente, e fizemos o Festival Da Rua pra Rua e o DVD ao vivo, tudo independente,
na base do faça-nóis-mesmo.
Vocês
acabam de voltar de uma tour pelo Nordeste, como foram as apresentações por aí
e o que vocês acharam da cena?
Foi absurdamente cabuloso! Desde o primeiro show em
Maceió o público abraçou a banda. Tocamos em bar de jazz, na praça, no quintal,
na favela, no centro, em evento de rap, de metal e com banda punk hardcore. Não
tem nem como descrever, mas a gente conheceu uma cena pequena, que parece uma
bomba atômica de tanta qualidade!
O Quintal Cultural de Maceió, o Alternativo S.A. de União dos Palmares, o
Casarão das Artes de Recife, são todos o Zumaluma de Embu das Artes. As
dificuldades da gente são as mesmas. A luta também. E a gente viu e ouviu só
coisa boa: Tequilla Bomb, Boby CH, Biografia Rap, Karne Krua, Lei do Kaoz, Ação
Libertária, Mate ou Morra, Quilombola de Zion e por aí vai... Tem um
mini-documentário da Tour Nordeste 2014 no nosso site oficial: www.asfixiasocial.com.br
Do
que se trata o festival “Da rua pra rua”?
O Festival Da Rua pra Rua começou com a idéia de juntar
várias bandas que a gente conheceu ao longo dos anos, e também coletivos
culturais que fazem parte do trampo mais social, de militância, e apresentar
todo mundo entre si no aniversário de 6 anos do Asfixia Social, que foi em
2013. Também, fazer um festival com uma estrutura legal na nossa própria
quebrada aqui em Diadema, trazendo os amigos, os vizinhos, que sempre viram a
gente tocar por aí mas que de certa forma não tavam no palco com a gente. Daí, jogamos
eles na função de organizar com a gente, de carregar e montar o palco, fazer o
corre do som, da luz, da divulgação, do audiovisual, e prestigiar bandas e
grupos que nunca viriam aqui pra quebrada se não fosse a nossa própria
correria. Virou um evento especial pra todo mundo envolvido, e uma forma de
apresentar novas bandas, proporcionar pra elas um material legal, um show
legal, um encontro da cultura de rua.
A
banda Santa Morte divulgou recentemente uma faixa de seu novo disco que sai em
2015, com a participação do Kaneda, vocal do Asfixia, vocês poderiam nos contar
mais detalhes dessa parceria?
O Santa Morte é uma banda que a gente conheceu em 2012,
num rolê em que o organizador vacilou com todas as bandas. Eles tavam perdidos
numa estrada lá na Zona Norte, e eu demos uma carona pra rapaziada até o show
em que a gente ia tocar junto. Apesar do corre, foi legal pra caramba,
principalmente porque a gente conheceu a banda dos caras ali. Um dia na Zona
Leste o Asfixia Social e o Santa Morte tavam numa dessas discussões, sobre
gente babaca que prega a segregação, o separatismo, gente facista e racista, e o
Kaneda deu uma opinião sobre como gente assim se esconde na cena Hardcore, e
que tem que ser taxativo, tem que ser radical com isso. E nada melhor do que
fazer um som e expressar essas idéias e essa identidade nas músicas. O Santa
Morte fez isso no disco novo deles, num som pra fortalecer com as nossas
raízes, nossas origens e com o nordeste, e convidaram o Kaneda pra fazer essa
participação. Da nossa parte, satisfação total, porque a soma ficou cabulosa, o
som ficou pesado! O Santa Morte tá cada dia mais monstro, e pra cena hardcore,
é uma das melhores referências.
Com
o disco e o DVD lançados, clipes e shows, quais serão os próximos passos do
Asfixia? Já existe uma previsão para o lançamento do novo disco?
Tá vindo coisa boa aí. Há 2 anos a gente tá trabalhando
um disco novo, intensamente, que sai (amém) em 2015, produzido por Marcelo
Sampaio e pela TopNoise Produções. É uma parceria que fizemos e acreditamos que
será uma surpresa pra cena toda. Enquanto isso, a gente tá indo pra Cuba pra
nossa primeira tour na gringa. São 12 shows, e vamos gravar um documentário
sobre a cena underground cubana, fechando com um show no maior festival de rua
do país, o Romerías de Mayo. Na volta, a gente pretende já estar com o disco
novo no gatilho e lançaremos um longa metragem sobre a história do Asfixia
Social. Tem trampo pra caramba, mas o que podemos dizer é que tem muita gente
legal envolvida, muita gente boa, e que a coisa tá melhor ainda pro nosso lado!
rsrs
A
marca registrada do som do Asfixia é a diversidade musical da banda, quais são
as referências musicais e líricas que os inspiram na hora de compor?
Cada um da banda, dependendo do dia e da hora, tá ouvindo
um som diferente. rsrs Punk, dub, eletrônico, ragga, metal, ska, saravá. Acho
que nem a gente acredita quando as músicas ficam boas, mas a gente consegue
misturar isso aí tudo e fazer um som legal. Acho que pra não sermos
redundantes, a gente pode citar KRS One, Macka B, Desorden Público, Melvins,
Asian Dub Foundation, Slackers, Cypress Hill, Living Colour, Cólera, José
Prates, Seletores de Frequência, Pepeu Gomes, Záfrica Brasil, Olho Seco, bate
no liquidificador, rsrs, e por aí vai...
O
amadorismo ainda é uma constante no underground, faltam locais pra tocar e boa
organização, que caminhos vocês acreditam que podem ser trilhados para uma
melhora desse cenário e uma maior valorização da produção nacional?
São questões delicadas, que envolvem não só a cena underground.
O músico no Brasil não é considerado trabalhador. Você não tem carteira
assinada como músico. Você não recebe seus direitos trabalhistas como músico. E
em cada esquina tem um músico. A Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) é uma piada.
E quando você tem a música sendo cogitada finalmente como uma matéria escolar,
o governo busca professores de educação artistica pra ensinar, e não músicos.
No mínimo, a cena underground, independente, e as bandas e músicos que compõe
uma pequena parte da cena, têm que se unir e mudar isso. Não dá pra ficar na
mão desses caras.
É natural que as bandas busquem sempre melhorar a
produção do seu show, do seu material fonográfico e audiovisual, e é natural
que as bandas busquem produzir melhores eventos também. Tem que se envolver.
Chega um momento, que não vale a pena estar em qualquer palco. O Asfixia Social
sempre buscou organizar seus próprios eventos. Aprendemos com isso, caminhamos
pra frente, tropeçamos, e seguimos adiante. É assim. Hoje, a gente consegue
tocar em lugares menores, em lugares maiores, se adaptar às situações, cobrar o
que é justo pra gente, e fazer shows em lugares diferentes, num palco ou na
rua, no centro ou na quebrada. Pra gente, o importante é fazer algo que seja
honesto com o público, com a banda, com as bandas, e com o nosso trabalho.
Ainda hoje, a gente carece de um bom produtor pra banda.
Temos boas opções, mas ainda não econtramos a ideal. Por isso, a gente segue
fazendo nosso próprio corre como linha de frente, e isso também tem muito a ver
com o fato do Asfixia Social não ter só discurso e música, é ir pra cima, agir,
fortalecer e correr pela cultura de rua.
A
mensagem por trás do som de vocês é carregada de ideologia de cunho social e
protesto, em tempos de muito barulho e pouco conteúdo o quão importante vocês
acreditam que seja levar uma idéia forte pra quem ouve o seu som?
Pra gente, o sentido disso tudo é transmitir um
sentimento real, uma idéia forte, fortalecer com o pensamento de quem tá na
correria, o mano e a mina que ouve o som e sai de casa na batalha do dia-a-dia,
uma luta constante contra os extremos mais opressores do sistema. A gente busca
ser espontâneo, canta o que vive, e da mesma maneira que tem disposição pra
conversa, tamo afim de bater de frente. O Asfixia Social é uma forma de
expressar nossa visão de mundo, nossa caminhada, aquilo que pra gente tem que
ser prioridade no dia-a-dia. Cada música é uma forma de resumir uma questão, propor
mudança, renovação, e de passar uma energia única. É isso que buscamos levar
pro palco e pra fora dele.]
O
disco “Da rua pra rua” é sensacional, um som peculiar e cheio de personalidade,
agora que o Asfixia Social está prestes a lançar um novo play, como vocês
avaliam o desempenho desse disco até aqui?
Agradecemos pelas palavras, mano! O “Da Rua pra Rua” se
tornou pra gente o cartão de visitas mais especial, o disco que fez a gente
transitar e ter voz tanto como uma banda punk quanto um grupo de rap, e
principalmente, levar adiante o Asfixia Social. O novo disco traz a essência do
“Da Rua pra Rua”, mas uma leitura ainda mais original e uma maturidade da banda
que a gente traduziu pra um disco muito louco e coeso. Pra gente, é um divisor
de águas na nossa capacidade de criação, em autenticidade e idéia quente, som,
letra, métrica e significados. Pode crer que tamo curtindo fazer um trabalho de
alto nível pra vocês! É nói!!
Agradeço
a atenção e reservo este espaço pra que
deixem registrado o seu salve para os leitores do blog e todos que acompanham o
trabalho da banda.
Satisfação total, você que está lendo, ouvindo,
assistindo, compartilhando, somando nas idéias
e na correria. Obrigado por fazer parte daquilo que somos. Acessa lá o www.asfixiasocial.com.br,
acompanha, espalha pra geral, abra as mentes que puder, entre na mente dos
outros, faça da sua vida a melhor que puder, seja diferente quando quiser, reaja
e viva, que faz toda a diferença no mundão. Chega junto, que tamo junto! PAZ.
Entrevista
por Evandro Sugahara – evandrosugahara1988@gmail.com
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