domingo, 29 de janeiro de 2017

GEORGE FRIZZO – FÚRIA E PROFISSIONALISMO NO METAL CEARENSE

Nosso entrevistado desta edição é um baixista renomado na cena underground nordestina, especificamente na cearense, pois nem mesmo as particularidades geográficas que possam colocar o Nordeste brasileiro um pouco distante do chamado grande eixo dos shows nacionais impediram George Frizzo e os competentíssimos músicos que sempre o acompanharam de produzirem excelentes trabalhos no heavy metal brasileiro. Lembremos, então, do genial Insanity, banda que fez história tocando um thrash metal de altíssimo nível, e desde o final da década de 90 o brutal Siege Of Hate, uma pedrada sonora, também de altíssimo nível, que vem passo a passo consolidando seu espaço na elite do metal extremo nacional. George Frizzo atendeu ao ColoradoHeavyMetal de maneira muito solícita, e compartilha a partir de agora com você, que navega na page do nosso blog,  um pouco desta brilhante carreira e sobre a cena cearense e nordestina, como um todo:

1-George, o Insanity fez história com o estupendo Phobia, hoje item de colecionador, além de registros memoráveis como Cryogenisation e o Mind Crisis, um discaço muito bem aceito pela imprensa à época de seu lançamento, tendo uma faixa inclusive em um dos volumes da  coletânea Planet Metal. Como você avalia hoje estes trabalhos que marcaram época no heavy nacional e nos fizeram observar com mais cuidado e carinho o potencial das bandas nordestinas?
R: Puxa! Só nessa pergunta tem  quase 15 anos de dedicação ao metal. Se eu fosse resumir todo esse tempo  em que a Insanity existiu, em uma única palavra, seria “DEDICAÇÃO” O Insanity era uma banda batalhadora, insistente. A gente acreditava e gostava do que fazia. Era uma atitude verdadeira, honesta. O som que a gente fazia no  Insanity  era o tipo de som que a gente gostava de tocar e ouvir. Nossa música era um reflexo do que a gente curtia, das bandas que a gente ouvia.  Infelizmente, na época, tudo era muito precário. Era difícil conseguir instrumentos bons, fazer uma gravação boa. Aqui em Fortaleza o mercado musical era dominado pelo Forró, e por isso os estúdios de gravação se moldavam nesse estilo musical.  Quando a gente foi gravar, tudo era novidade, tanto pra gente quanto para o próprio estúdio. As únicas referências que o pessoal tinha eram as bandas mais clássicas de metal, Iron Maiden, Scorpions, Ozzy, e a gente queria algo no nível do Death, do Morbid Angel, do Slayer, do Kreator.  hehehe

2-O Insanity apresentou ao heavy nacional o Fabio Andrey, que tocou no The Mist e hoje mora na França. Quais lembranças você tem deste período?
R: Mesmo quando o Fábio saiu da banda, a gente continuou tudo amigo. Afinal ele estava saindo do Insanity pra tocar numa das maiores bandas nacionais, o The Mist, banda de um ex-Sepultura, que já tinha discos, e nós éramos (e ainda somos até hoje) todos fãs.  De certa forma ficamos orgulhosos dele ter ido pro The Mist.  Inicialmente a maior dificuldade do Insanity sem ele, foi conseguir um vocalista no nível do Fábio, que encarasse a banda como a gente encarava, com seriedade e compromisso. Na época a gente já tava preparando material pro segundo disco, o Mind Crisis, e quando ele saiu da banda foi de certa forma um baque. Ficamos um bom tempo pensando em colocar alguém em seu lugar, mas no fim das contas eu acabei assumindo a função dos vocais.  Uma pena eles nunca terem gravado nada com essa formação. Teria ficado animal um disco do The Mist com o Fábio nos vocais.


3- O Siege of Hate, sua atual banda, vem escrevendo uma discografia matadora com petardos que estão gradativamente colocando o S.O.H. no primeiro escalão do metal extremo brasileiro. Como se deu a formação e a proposta musical do Siege of Hate?
R: O SOH foi formado pelo Bruno em meados de 97/98 como um projeto paralelo dele com alguns amigos nossos, como o Amaudson e o Mano (na época ambos no Obskure) e o Neto (na época na banda LOW). A ideia era fazer um som mais cru e direcionado pro Hardcore/Punk, bem diferente do que o Insanity procurava fazer na época, um som mais lento e pesado com bastante influências de Death Metal Industrial e Doom Metal. Mas esse projeto nunca atrapalhou os trabalhos do Insanity , que na época já se preparava pra gravar o Mind Crisis. O tempo se passou, e alguns anos depois do Insanity lançar esse disco, a banda teve problema de formação e resolvemos encerrar as atividades.  Mas o SOH se manteve, e coincidiu de também estar precisando de um baixista quando.  Eles haviam gravado uma demo que teve uma excelente repercussão pelo cenário underground nacional e se preparavam pra gravar o primeiro disco quando  tiveram esse problema de formação e eu entrei pra banda. Isso , acho que foi em 2001 ou 2002. Em 2003 o SOH gravou o disco Subversive by Nature e a coisa foi acontecendo.   E lá se vão quase 20 anos.

4-Já se vão quase 20 anos com discos e shows de altíssimo nível com o Siege of Hate. Vocês vislumbravam tamanha longevidade em alto nível, complementando nossa pergunta anterior?
R: Não. Ninguém do SOH fica pensando nisso, de tocar por um determinado tempo e depois  acabar. Enquanto gostamos de fazer o que fazemos e conseguirmos empunhar nossos instrumentos, vamos seguindo em frente.   O SOH sempre seguiu no próprio ritmo. Cada um tem seu trabalho e seus projetos pessoais. Por isso as coisas com o SOH sempre foram  acontecendo de forma natural. Tudo é sempre pensando e planejado com antecedência. Discos, tour, shows, ensaio.

5- Bruno Gabai, Saulo Oliveira e você demonstram entrosamento e maturidade, colocando tais credenciais à serviço do hardcore/crossover/grind nacional, além da técnica apuradíssima na construção de uma verdadeira sonzeira que invade os ouvidos ao ouvir Siege of Hate. Vocês vivem hoje o melhor momento enquanto músicos?
R: Primeiramente obrigado pelo elogio, mas acho que o som do SOH está ainda bem longe dessas  “técnicas apuradíssimas” que você menciona. Hehehe Mas acho que sim. Acho que a gente está num momento muito bom.  Com certeza o tempo de estrada que o SOH tem,  deixou a banda  mais coesa e objetiva. Vamos aprendendo com os erros.  Amadurecendo as ideias. E assim as coisas vão fluindo da melhor forma.  Fazemos o que estamos afim,  o que gostamos, e acreditamos. Assim estamos sendo honestos com o nosso público, com os bangers que curtem o SOH.

6- O Siege of Hate já aportou em solo europeu. Como está hoje o contato e intercâmbio com o mercado internacional?
R: Hoje esses contatos são muito fáceis. Qualquer banda que tiver um mínimo de iniciativa e que não seja preguiçosa faz contatos pelo mundo afora. Hoje você consegue tudo pela internet. Troca material, vende discos, camisetas, marca tour, divulga. Pela internet você fala diretamente com seu público.  É um puta canal direto com essa galera nova que gosta de você. Muitos passaram a gostar da banda justamente porque viram algum vídeo seu no Youtube, ou ouviram alguma musica sua no Spotify ou Bandcamp,  e isso tudo na própria internet . O SOH esta em todas essas plataformas de streaming Spotify, Deezer, Google Play, Soundcloud, Bandcamp, etc. Além das redes sociais como Facebook e Tweeter. Isso é importante, com essas ferramentas você pode alcançar o mundo todo.  Fazer esse intercâmbio com as cenas de outros países.

7-Neste final de semana (04/12) o Siege of Hate tocou com o lendário MX, um ícone do heavy metal nacional. Qual a importância de dividir o palco com bandas consagradas do Brasil e da Europa, para o S.O.H. ?
R: Esse show com o MX foi muito legal. Não só por termos tocado com uma banda que era referência para nós a 20 anos atrás, que é o MX, mas por dividirmos o palco novamente com os velhos amigos do Nervochaos e com os novos amigos do Boargasm.  Esse show foi memorável.  Sobre a importância de se dividir o palco com bandas consagradas ou não. Pra gente é sempre um prazer tocar com outras bandas, independente se o show é ao lado do Extreme Noise Terror, Obituary ou MX, bandas grandes que somos muito fãs, ou com bandas menos conhecidas, que atuam em nossa cidade, bandas de amigos, mas que também somos fãs.   

8- O advento da internet foi suficiente para incluir o nordeste brasileiro de fato na rota dos grandes eventos de rock nacional ou apenas facilitou a comunicação? Como as bandas e os fãs nordestinos se localizam neste contexto?
R: Acho que ajudou de forma geral, tanto no aumento da comunicação entre bandas do nordeste com  bandas de outros lugares do pais e até de fora do Brasil. Como também facilitou muito o contato com produtores  e bandas de fora. Ajudando as bandas do nordeste a tocar fora, como também a trazer bandas de fora para tocar pelo nordeste. E até bandas do nordeste a circularem pela região, haja visto que o Nordeste é uma região enorme e cada estado tem sua cena com suas características e suas bandas representantes.  E tudo isso só colabora para o crescimento desse público, fã de metal. Independente da região, do estado ou pais em que ele esteja.

9- Quais os próximos capítulos a serem escritos pelo Siege of Hate no heavy metal nacional?
R: Já estamos em fase de composição do nosso quinto álbum. Além disso, estamos trabalhando em alguns projetos , que estão sendo encaminhados nesse exato momento. Um deles é o relançamento da nossa primeira demo, a “Return To Ahes”, que foi lançada 98 somente nos formatos em cassete e em CDr, e desde então tem sido muito procurada pelos fãs do SOH. Por isso iremos relança-la de forma apropriada, em CD formato Digipack, com um show completo e um ensaio como bônus, contendo um livreto com depoimentos de todos os membros que gravaram esse material, além de fotos inéditas e cartazes da época.  

10- Você considera que há uma renovação no metal nordestino, como um todo? O que ouviremos no futuro quando bandas como Siege of Hate, Headhunter DC, Obskure, Malefactor e outros saírem de cena?
R: Eu acredito que sim. Todo dia a gente vê uma banda nova surgindo, e algumas dessas são realmente boas. Então acredito que haja de verdade uma renovação no metal nordestino e nacional. O metal é um estilo que está sempre se renovando. Pegando coisas do passado e transformando em coisas novas.  Está sempre  apresentando boas bandas, bons discos, bons shows. Os bangers só precisam sair um pouco da “caixinha” de ficarem cultuando só as bandas antigas com o papo de que “o que era velho é que era bom”. Tem muita coisa boa por ai, a gente só precisa dar mais atenção a elas. 


11- George Frizzo, o blog ColoradoHeavyMetal agradece sua atenção e participação. Receba nossos parabéns por colocar peso na trilha sonora do nordeste brasileiro. Imaginamos que isto requeira muita garra e determinação. Seus trabalhos com Insanity e Siege of Hate são realmente dignos de citação. Deixamos este espaço para sua considerações finais.
R: Muito obrigado a você, Marco Aurélio, pelo espaço  e  em nome da banda SOH  agradeço pelo enorme apoio que a Colorado Heavy Metal dá ao Metal. E, pro pessoal que está lendo a gente, vá aos shows, e comprem material das bandas independentes. Valorizem o Metal Nacional Underground! Obrigado.

Por Marcão Azevedo

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Editor responsável - Vitor Carnelossi