Nosso entrevistado desta edição é um baixista renomado na
cena underground nordestina, especificamente na cearense, pois nem mesmo as
particularidades geográficas que possam colocar o Nordeste brasileiro um pouco
distante do chamado grande eixo dos shows nacionais impediram George Frizzo e
os competentíssimos músicos que sempre o acompanharam de produzirem excelentes
trabalhos no heavy metal brasileiro. Lembremos, então, do genial Insanity,
banda que fez história tocando um thrash metal de altíssimo nível, e desde o
final da década de 90 o brutal Siege Of Hate, uma pedrada sonora, também de
altíssimo nível, que vem passo a passo consolidando seu espaço na elite do
metal extremo nacional. George Frizzo atendeu ao ColoradoHeavyMetal de maneira
muito solícita, e compartilha a partir de agora com você, que navega na page do
nosso blog, um pouco desta brilhante
carreira e sobre a cena cearense e nordestina, como um todo:
1-George, o Insanity fez história com o estupendo Phobia,
hoje item de colecionador, além de registros memoráveis como Cryogenisation e o
Mind Crisis, um discaço muito bem aceito pela imprensa à época de seu
lançamento, tendo uma faixa inclusive em um dos volumes da coletânea Planet Metal. Como você avalia hoje
estes trabalhos que marcaram época no heavy nacional e nos fizeram observar com
mais cuidado e carinho o potencial das bandas nordestinas?
R: Puxa! Só nessa pergunta tem quase 15 anos de dedicação ao metal. Se eu
fosse resumir todo esse tempo em que a
Insanity existiu, em uma única palavra, seria “DEDICAÇÃO” O Insanity era uma
banda batalhadora, insistente. A gente acreditava e gostava do que fazia. Era
uma atitude verdadeira, honesta. O som que a gente fazia no Insanity
era o tipo de som que a gente gostava de tocar e ouvir. Nossa música era
um reflexo do que a gente curtia, das bandas que a gente ouvia. Infelizmente, na época, tudo era muito
precário. Era difícil conseguir instrumentos bons, fazer uma gravação boa. Aqui
em Fortaleza o mercado musical era dominado pelo Forró, e por isso os estúdios
de gravação se moldavam nesse estilo musical.
Quando a gente foi gravar, tudo era novidade, tanto pra gente quanto para
o próprio estúdio. As únicas referências que o pessoal tinha eram as bandas
mais clássicas de metal, Iron Maiden, Scorpions, Ozzy, e a gente queria algo no
nível do Death, do Morbid Angel, do Slayer, do Kreator. hehehe
2-O Insanity apresentou ao heavy nacional o Fabio Andrey,
que tocou no The Mist e hoje mora na França. Quais lembranças você tem deste
período?
R: Mesmo quando o Fábio saiu da banda, a gente continuou
tudo amigo. Afinal ele estava saindo do Insanity pra tocar numa das maiores
bandas nacionais, o The Mist, banda de um ex-Sepultura, que já tinha discos, e
nós éramos (e ainda somos até hoje) todos fãs. De certa forma ficamos orgulhosos dele ter ido
pro The Mist. Inicialmente a maior
dificuldade do Insanity sem ele, foi conseguir um vocalista no nível do Fábio, que
encarasse a banda como a gente encarava, com seriedade e compromisso. Na época
a gente já tava preparando material pro segundo disco, o Mind Crisis, e quando
ele saiu da banda foi de certa forma um baque. Ficamos um bom tempo pensando em
colocar alguém em seu lugar, mas no fim das contas eu acabei assumindo a função
dos vocais. Uma pena eles nunca terem
gravado nada com essa formação. Teria ficado animal um disco do The Mist com o
Fábio nos vocais.
3- O Siege of Hate, sua atual banda, vem escrevendo uma
discografia matadora com petardos que estão gradativamente colocando o S.O.H.
no primeiro escalão do metal extremo brasileiro. Como se deu a formação e a
proposta musical do Siege of Hate?
R: O SOH foi formado pelo Bruno em meados de 97/98 como um
projeto paralelo dele com alguns amigos nossos, como o Amaudson e o Mano (na
época ambos no Obskure) e o Neto (na época na banda LOW). A ideia era fazer um
som mais cru e direcionado pro Hardcore/Punk, bem diferente do que o Insanity
procurava fazer na época, um som mais lento e pesado com bastante influências
de Death Metal Industrial e Doom Metal. Mas esse projeto nunca atrapalhou os
trabalhos do Insanity , que na época já se preparava pra gravar o Mind Crisis. O
tempo se passou, e alguns anos depois do Insanity lançar esse disco, a banda
teve problema de formação e resolvemos encerrar as atividades. Mas o SOH se manteve, e coincidiu de também
estar precisando de um baixista quando.
Eles haviam gravado uma demo que teve uma excelente repercussão pelo
cenário underground nacional e se preparavam pra gravar o primeiro disco quando
tiveram esse problema de formação e eu
entrei pra banda. Isso , acho que foi em 2001 ou 2002. Em 2003 o SOH gravou o
disco Subversive by Nature e a coisa foi acontecendo. E lá se
vão quase 20 anos.
4-Já se vão quase 20 anos com discos e shows de altíssimo
nível com o Siege of Hate. Vocês vislumbravam tamanha longevidade em alto
nível, complementando nossa pergunta anterior?
R: Não. Ninguém do SOH fica pensando nisso, de tocar por um
determinado tempo e depois acabar.
Enquanto gostamos de fazer o que fazemos e conseguirmos empunhar nossos
instrumentos, vamos seguindo em frente. O SOH sempre seguiu no próprio ritmo. Cada um
tem seu trabalho e seus projetos pessoais. Por isso as coisas com o SOH sempre
foram acontecendo de forma natural. Tudo
é sempre pensando e planejado com antecedência. Discos, tour, shows, ensaio.
5- Bruno Gabai, Saulo Oliveira e você demonstram
entrosamento e maturidade, colocando tais credenciais à serviço do
hardcore/crossover/grind nacional, além da técnica apuradíssima na construção
de uma verdadeira sonzeira que invade os ouvidos ao ouvir Siege of Hate. Vocês
vivem hoje o melhor momento enquanto músicos?
R: Primeiramente obrigado pelo elogio, mas acho que o som do
SOH está ainda bem longe dessas “técnicas apuradíssimas” que você menciona.
Hehehe Mas acho que sim. Acho que a gente está num momento muito bom. Com certeza o tempo de estrada que o SOH
tem, deixou a banda mais coesa e objetiva. Vamos aprendendo com
os erros. Amadurecendo as ideias. E
assim as coisas vão fluindo da melhor forma. Fazemos o que estamos afim, o que gostamos, e acreditamos. Assim estamos
sendo honestos com o nosso público, com os bangers que curtem o SOH.
6- O Siege of Hate já aportou em solo europeu. Como está
hoje o contato e intercâmbio com o mercado internacional?
R: Hoje esses contatos são muito fáceis. Qualquer banda que
tiver um mínimo de iniciativa e que não seja preguiçosa faz contatos pelo mundo
afora. Hoje você consegue tudo pela internet. Troca material, vende discos,
camisetas, marca tour, divulga. Pela internet você fala diretamente com seu
público. É um puta canal direto com essa
galera nova que gosta de você. Muitos passaram a gostar da banda justamente
porque viram algum vídeo seu no Youtube, ou ouviram alguma musica sua no Spotify
ou Bandcamp, e isso tudo na própria
internet . O SOH esta em todas essas plataformas de streaming Spotify, Deezer,
Google Play, Soundcloud, Bandcamp, etc. Além das redes sociais como Facebook e
Tweeter. Isso é importante, com essas ferramentas você pode alcançar o mundo
todo. Fazer esse intercâmbio com as
cenas de outros países.
7-Neste final de semana (04/12) o Siege of Hate tocou com o
lendário MX, um ícone do heavy metal nacional. Qual a importância de dividir o
palco com bandas consagradas do Brasil e da Europa, para o S.O.H. ?
R: Esse show com o MX foi muito legal. Não só por termos
tocado com uma banda que era referência para nós a 20 anos atrás, que é o MX,
mas por dividirmos o palco novamente com os velhos amigos do Nervochaos e com os
novos amigos do Boargasm. Esse show foi
memorável. Sobre a importância de se
dividir o palco com bandas consagradas ou não. Pra gente é sempre um prazer
tocar com outras bandas, independente se o show é ao lado do Extreme Noise
Terror, Obituary ou MX, bandas grandes que somos muito fãs, ou com bandas menos
conhecidas, que atuam em nossa cidade, bandas de amigos, mas que também somos fãs.
8- O advento da internet foi suficiente para incluir o
nordeste brasileiro de fato na rota dos grandes eventos de rock nacional ou apenas
facilitou a comunicação? Como as bandas e os fãs nordestinos se localizam neste
contexto?
R: Acho que ajudou de forma geral, tanto no aumento da
comunicação entre bandas do nordeste com
bandas de outros lugares do pais e até de fora do Brasil. Como também
facilitou muito o contato com produtores
e bandas de fora. Ajudando as bandas do nordeste a tocar fora, como
também a trazer bandas de fora para tocar pelo nordeste. E até bandas do
nordeste a circularem pela região, haja visto que o Nordeste é uma região
enorme e cada estado tem sua cena com suas características e suas bandas
representantes. E tudo isso só colabora
para o crescimento desse público, fã de metal. Independente da região, do
estado ou pais em que ele esteja.
9- Quais os próximos capítulos a serem escritos pelo Siege
of Hate no heavy metal nacional?
R: Já estamos em fase de composição do nosso quinto álbum.
Além disso, estamos trabalhando em alguns projetos , que estão sendo
encaminhados nesse exato momento. Um deles é o relançamento da nossa primeira
demo, a “Return To Ahes”, que foi lançada 98 somente nos formatos em cassete e
em CDr, e desde então tem sido muito procurada pelos fãs do SOH. Por isso iremos
relança-la de forma apropriada, em CD formato Digipack, com um show completo e
um ensaio como bônus, contendo um livreto com depoimentos de todos os membros
que gravaram esse material, além de fotos inéditas e cartazes da época.
10- Você considera que há uma renovação no metal nordestino,
como um todo? O que ouviremos no futuro quando bandas como Siege of Hate,
Headhunter DC, Obskure, Malefactor e outros saírem de cena?
R: Eu acredito que sim. Todo dia a gente vê uma banda nova
surgindo, e algumas dessas são realmente boas. Então acredito que haja de
verdade uma renovação no metal nordestino e nacional. O metal é um estilo que
está sempre se renovando. Pegando coisas do passado e transformando em coisas
novas. Está sempre apresentando boas bandas, bons discos, bons
shows. Os bangers só precisam sair um pouco da “caixinha” de ficarem cultuando
só as bandas antigas com o papo de que “o que era velho é que era bom”. Tem
muita coisa boa por ai, a gente só precisa dar mais atenção a elas.
11- George Frizzo, o blog ColoradoHeavyMetal agradece sua
atenção e participação. Receba nossos parabéns por colocar peso na trilha
sonora do nordeste brasileiro. Imaginamos que isto requeira muita garra e
determinação. Seus trabalhos com Insanity e Siege of Hate são realmente dignos
de citação. Deixamos este espaço para sua considerações finais.
R: Muito obrigado a você, Marco Aurélio, pelo espaço e em
nome da banda SOH agradeço pelo enorme
apoio que a Colorado Heavy Metal dá ao Metal. E, pro pessoal que está lendo a
gente, vá aos shows, e comprem material das bandas independentes. Valorizem o
Metal Nacional Underground! Obrigado.
Por Marcão Azevedo
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Editor responsável - Vitor Carnelossi