O Blog COLORADO HEAVY METAL sempre esta nos bastidores dando uma boa garimpada no que há de interessante na cena, e se possível nos é dado a chance de cooperar com as bandas que curtimos para criar conteúdo de divulgação e pesquisa. A internet é gigante, porém consciência no conteúdo é o que temos a oferecer! Confiram essa entrevista bem legal com o Viruz representando a banda SANTA MORTE, mais um material a cargo do sempre conectado e produtivo EVANDRO SUGAHARA!
1 - Fala Galera, obrigado por falar conosco, o
Blog Colorado Heavy Metal agradece, pra começar gostaria que vocês descrevessem
um pouco da história do Santa Morte para nós e como você se envolveram com o
som underground?
Viruz
- Salve Sugahara! Primeiramente obrigado pelo espaço, pelo apoio, e o
agradecimento é todo nosso! Bom, a Santa Morte foi formada em 2011, e todos nós
já tocávamos em outras bandas, de diferentes estilos...hardcore melódico, ny
hardcore, punk, metal , e o Fernando Muniz foi a ponte...ele conhecia os outros
caras, mas a gente não se conhecia, apenas o Henrique e o Caio se conheciam
antes, e o Fernando veio com essa ideia da banda, num ótimo momento pra todo
mundo, acho que todos estávamos descontentes com nossos projetos anteriores, e
queríamos dar uma mudada, fazer algo novo, e do zero. Ele juntou todo mundo, e
deu no que deu!
2 - Em suas palavras, o que é a Santa Morte?
Viruz
- Cara, pra mim, antes de tudo, Santa Morte é amizade. Somos uma banda, e hoje
em dia nos levamos muito mais a sério do que levávamos no começo. Temos ideia
de que é algo importante não só pra nós, mas pra outras pessoas que estão
envolvidas e que curtem a banda. Nosso intuito quando montamos a banda era
juntar uns amigos e fazer um som do jeito que a gente curte, e acho que temos
conseguido fazer isso. Cada vez com mais amigos, e cada vez mais longe.
3 - Tenho acompanhado os progressos da banda e
vejo que vocês cresceram bastante na cena, como vocês analisam essa evolução, e
qual a fórmula pra se manter de pé em uma cena em que sobram problemas e falta
apoio?
Viruz
- É muito difícil dizer o porquê crescemos, ou o quanto crescemos. Nós temos
noção que temos uma galera que acompanha nosso trabalho, mas isso ainda é meio
novo pra gente. É difícil se manter porque todos nós temos outras coisas pra
fazer por fora, e é muito difícil viver de um hardcore mais pesado no Brasil.
Todos trabalhamos, alguns estudam, o Caio é casado, e pai, então tem muita
coisa pra conciliar, por isso as vezes é difícil "se manter em pé"
como você disse, mas a gente vai levando, tentando sempre compor coisas novas,
evoluir musicalmente, e nos virando com a pouca grana que da pra tirar de shows
e merchandising pra sobreviver no underground, e acho que se você perguntar,
99% das bandas da cena vão ter uma resposta parecida com essa.
4 - Como foi a experiência da gravação do clipe
para “Lixo informativo”?
Viruz
- Cara, foi uma loucura! Rs... nós fizemos no extremo do "Do It
Yourself"... ! O Caio chegou com essa ideia maluca do clipe, e pra ser
sincero, quando li o roteiro eu fiquei meio cético de que pudesse dar certo,
achei que ficaria uma merda mesmo, porque a ideia era muito boa, mas a execução
parecia extremamente difícil. Um dia a gente cansou de discutir se dava pra
fazer ou não, e resolvemos descobrir tentando. Gastamos 38 reais, chamamos
alguns amigos, ligamos a câmera, e o clipe aconteceu! Foi simples assim! Foi
uma experiência única e inesquecível! Não ficou nada profissional, mas pra
maneira como foi feito, o clipe ficou muito bom, e é muito importante pra nós,
tanto pela divulgação que deu pra banda, quanto pela importância da atitude de
simplesmente ir, e fazer!
5 - Vocês já possuíam experiência em estúdio ou
a gravação de “Aos Verdadeiros” foi o primeiro contato com um estúdio?
Viruz
- Todos da banda já tinham gravado materiais com seus projetos antigos, mas
nada no nível que a gente trabalhou pro Aos Verdadeiros. Antes do Aos
Verdadeiros já foi um choque, quando gravamos a single Dopado, com o Marcello
Pompeu, e o Heros Trench, ambos do Korzus, no MrSom Estúdio. Tínhamos gravado
em estúdios pequenos anteriormente, nada muito sério, e de repente topamos num
estúdio onde tinham gravado bandas que admirávamos, como Ratos de Porão,
Claustrofobia, Coração de Herói, e o próprio Korzus, e tinha um Grammy em cima
da geladeira do estúdio, foi meio chocante, mas mesmo sendo apenas um single,
acho que deu a experiência que precisávamos pra fazer do Aos Verdadeiros um
álbum melhor. Quando chegamos no Magma Estúdios, pra gravar com o Léo, por
indicação do nosso mano Douglas Melchiades, do Worst, que na época tocava no
One True Reason, foi o que posso descrever como "amor à primeira
visita"...o Léo é um cara extremamente profissional, e é como a gente, é
parecido com a gente, que fala um monte de merda, que zoa, brinca o tempo
inteiro, e foi um clima muito gostoso, descontraído, leve...ao mesmo tempo que
queríamos logo o resultado do disco, não queríamos terminar a gravação, porque
era gostoso estar ali no estúdio, trabalhando nas músicas, conversando, e nos
divertindo, foi animal! O cara manja muito do que faz, e foi tão importante
quanto qualquer integrante da banda para que o álbum ficasse tão bom! O Léo
virou um grande amigo nosso, e fazemos trabalhos juntos até hoje. No que
depender de nós, muitos álbuns da Santa Morte ainda serão gravados por ele.
6 - A banda se apresenta com certa freqüência
ao vivo, como vocês enxergam a reação da galera ao som da Santa Morte? Como é
poder levar a mensagem da banda a tantas pessoas diferentes?
Viruz
- É uma loucura cara! Acho que é o "ganho" de quem escolhe ter uma
banda! De resto, a maior parte do tempo, é árduo, sofrido, e difícil. Se
manter, ensaiar, criar, evoluir, trazer novidades, comprar equipamento,
consertar equipamento, e etc, etc, etc...é foda, mas tudo isso é recompensando
quando você sobe no palco, e vê a galera cantando seu som! Eu lembro de uma
época que ia muito em shows, e do sentimento que eu tinha quando via as bandas
que eu gostava tocando, e imagino que quem está ali agitando no nosso show está
sentindo a mesma coisa, e isso é fantástico! A forma como somos recebidos nos
lugares fora de São Paulo também é impressionante! As vezes a ficha ainda não
caiu que nosso som "saiu de São Paulo" saca? A gente percebia que
tinha um público aqui, por causa da frequencia de shows, mas quando fomos
chamados pra tocar a primeira vez em Santos, por exemplo, chegamos lá, e todo
mundo conhecia a gente, e as nossas músicas, mesmo sendo uma cidade vizinha
praticamente, foi surpreendente, assustador! Quando fomos tocar em Minas Gerais,
tinha um moleque cantando nossas músicas, e chorando no meio do show! Quando vi
aquilo quase travei, quase chorei junto Hahahaha. É só o que eu consigo
descrever cara, essa sensação é difícil de ser colocada em palavras.
7 - Dando uma ênfase a parte lírica da Santa
Morte, dá pra sacar que existe uma idéia forte além do som agressivo, vocês
acreditam que é importante se preocupar com a mensagem transmitida pela banda?
Viruz
- Absolutamente! Acho deprimente ver algumas bandas se preocuparem tanto com o
instrumental absurdamente pesado, e fazer umas letras clichês, sem rimas, sem
nexo, só um monte de frases de efeito enfileiradas! Dá angustia em ver que
infelizmente tem bandas assim, e mais angustia ainda em saber que tem gente que
apoia, e consome esse tipo de "música".
8 - Como foi que rolaram as participações
especiais de Marcelo Soldado (Coração de Herói) e Rafael Camelo (Infecção
Raivosa)?
Viruz
- A do Rafa foi meio que de última hora. Nós iríamos fechar o álbum, e aquele
instrumental ainda não tinha letra. O Fernando Muniz escreveu a letra de Tenha
Fé, e quando estava pronta, e a gente foi pro estúdio ver como ficaria, um
amigo nosso, o Arthur (Tutu), comentou: "Eu leio essa letra com a voz do
Rafão!" e deu um estalo na hora, ligamos pra ele na mesma hora, e ele
topou. A gente já se conhecia, já tínhamos tocado juntos, e éramos fãs de
Infecção Raivosa, então foi assim que rolou. A participação do Soldado foi meio
chocante pra nós. Eu escrevi a Aos Verdadeiros, pensando nas pessoas que me
passavam verdade no que diziam, e na forma de ser e agir, não só de pessoas
próximas, de amigos, mas de pessoas que eu admirava, e o Soldado é um cara que
sempre curti o trampo dele, desde a época do Korzus. Quando ele lançou o CD do
Coração de Herói, eu ouvia todos os dias, e ainda ouço com bastante frequencia,
e na época ele era um ídolo pra mim particularmente, chamei o cara mas não
tinha esperança nenhuma que ele fosse aceitar, ele nem me conhecia, nem sabia
quem eu era, que eu existia, e o cara é simplesmente um dos maiores
guitarristas do país. Mas o Soldado é um cara fantástico, de uma honra e um
caráter inabaláveis. Ele foi extremamente humilde comigo, conversamos bastante,
e ele curtiu muito a letra, e topou. Até hoje me sinto muito honrado em ter a
participação dele no nosso disco, até porque, depois disso viramos amigos, e é
um cara pelo qual o meu respeito só aumenta à cada dia.
9 - Ano passado vocês divulgaram uma faixa
inédita, “Escravidão remunerada” quais são os planos futuros da Santa Morte? O
que vem por aí em 2014?
Viruz
- Não podemos falar muito sobre isso no momento. Só posso falar que estamos
trabalhando firme, e coisas boas virão num futuro próximo. Deixa no ar
Hahahaha.
10 - Vocês pensam em um próximo lançamento
prensar um disco físico? Qual a razão de optarem pelo lançamento digital de
“Aos Verdadeiros” (2012)?
Viruz
- A razão foi única e exclusivamente GRANA! Nós queríamos muito fazer o físico,
mas não tínhamos grana, e quando conseguimos juntar uma grana, foi tarde
demais. O disco já estava espalhado pela internet, todo mundo já tinha, e tinha
ouvido muito, não ia vender um físico à aquela altura. Pro nosso próximo
trabalho, vamos nos planejar melhor, pra tentar lançar o físico, temos muita
vontade de conseguir, é uma das nossas metas. Infelizmente custa bem caro, e
pra bandas como nós, independentes, e sem apoio nenhum, é meio complicado. De
qualquer maneira, vamos batalhar pra que isso aconteça.
11 - “Dopado” saiu como bônus em “Aos Verdadeiros”,
ela foi gravada no Mr. Som em 2011, você poderia nos contar como foi trabalhar
com Marcelo Pompeu (Korzus)?
Viruz
- Bom, já falei um pouco sobre isso numa pergunta anterior, mas vou detalhar
mais sobre aquele single em específico. Foi foda. Simplesmente. Em todos os
sentidos, nos bons e nos ruins. Bom porque o resultado foi exatamente o que
queríamos, e foi uma experiência fenomenal como banda, mas foi difícil. Difícil
porque não estávamos acostumados com aquele nível de profissionalismo, nem
esperávamos gastar tanta grana. Pra você ter uma ideia por cima, o que gastamos
pra gravar só a Dopado, foi o preço de quase a metade do álbum Aos Verdadeiros.
O Pompeu tem um Grammy, é um produtor e um músico renomado internacionalmente,
e indiscutivelmente, um dos melhores produtores musicais do país. Acho que ele
era areia demais pro nosso caminhão. Se fossemos gravar hoje com ele, seria bem
diferente, mas estamos muito felizes no Magma, e como já comentei, não
pretendemos sair de lá.
12 - Vocês tocaram em Maringá-PR em setembro do
ano passado, uma cidade bem próxima aqui de Colorado-PR, onde reside a galera
do blog, conte-nos como foi esse role pelo interior do Paraná e quais as
lembranças que vocês têm desse show?
Viruz
- Na verdade, não tocamos. Esse rolê foi cancelado em cima da hora. Foi
estranho porque convidaram a gente, e o DPR, e estava tudo certo, saiu flyer e
tudo, mas os valores pra contratar a Van que nos levaria foram sempre ficando
"pra semana que vem", e nunca vieram. Esperamos até um dia antes do
rolê, mas infelizmente não rolou. Não acho que foi má índole dos organizadores,
só que era uma galera mais nova que estava organizando, acho que faltou um
pouco de experiência, mas tudo bem, acontece. Espero que possamos ir tocar em
Maringá em 2014!
13 - A Santa Morte tem uma parceria forte com o
Do Protesto a Resistência, do que se trata a “De La Rua Crew”?
Viruz
- Crew sempre foi um assunto delicado, e nós nunca gostamos de nos envolver,
porém, o Ricardo, vocalista do DPR, e criador da De La Rua nos trouxe uma
proposta muito legal, com projetos juntos, e planos futuros de poder fazer algo
maior por nós mesmos e pela cena. Nós e os caras do DPR de uns tempos pra cá
nos tornamos bem próximos. Temos as mesmas ideias, o mesmo público, e somos
amigos. Estarmos juntos é bom pras duas bandas, em todos os sentidos. Na
questão musical, pelo público que é praticamente o mesmo, e pela questão
pessoal, de sermos amigos, nos ajudarmos, e nos divertirmos muito juntos. É o
que falei do Léo na outra pergunta, por exemplo, a mesma coisa se encaixa ao
DPR, eles se parecem com a gente! Pensam iguais, são tão malucos quanto nós, e
falam as mesmas merdas, e fazem as mesmas brincadeiras. A gente se dá bem. A De
La Rua só fortalece essa amizade, e aproxima ainda mais as bandas.
Definitivamente, a De La Rua é uma crew muito diferente de todas as outras.
14 - Essa parceria com o DPR tem possibilidade
de se estender para participações em músicas de ambas as bandas, creio que
seria uma ótima combinação, não acham?
Viruz
- Com certeza! Era pro Ricardo do DPR ter participado já no Aos Verdadeiros, na
faixa Falso Comando, mas tivemos alguns problemas com as datas e os horários de
cada um, e acabou não rolando, mas com certeza
queremos o DPR bem perto de nós no nosso próximo trampo. Nos shows
sempre estamos juntos, já cantei com os caras em duas oportunidades, e é sempre
sensacional estar com eles. O DPR é a nossa família, a De La Rua é a nossa
família, e quem não quer a família por perto? Com certeza isso vai rolar, não
só em músicas, mas em muitas coisas que uma banda fizer, a outra vai estar
junto. Como diria o Ricardo: "Se é pra fazer panela, então que a tampa
seja bem pesada!" Hahahaha e é isso aí!
15 - Mantendo nosso péssimo hábito de plagiar a
Roadie Crew e de adorar uma lista, gostaria que citassem seus cinco álbuns
preferidos de todos os tempos!
Viruz
- Eu odeio essas porras, sempre fico com a impressão de que fui injusto! Hahaha
Mas vamos lá, vou tentar citar os cinco que acho que mais ouvi!
1 - Raza Odiada - Brujeria
2 - Rebel Meets Rebel - Rebel Meets
Rebel
3 - Roots - Sepultura
4 - Ties of Blood - Korzus
5
- Nada como um dia, após o outro dia - Racionais MC's
16 - Continuando no clima da questão acima,
gostaria que vocês deixassem uma dica, algo novo que vocês andam ouvindo e
consideram como uma promessa do underground.
Viruz
- Hoje em dia ouço muita coisa, não necessariamente nova, mas que pra mim tem
um peso, e faz uma diferença muito grande no underground de um modo geral.
1
- DPR
2
- Zero Real Marginal
3
- Surra
4
- Maguila
5
- Disórdia
17 - Reservo este espaço para as suas
considerações finais, muito obrigado pela presa e esperamos nos falar em breve!
Queria
agradecer à todo mundo que acompanha a banda, que curte o nosso som, e nos
apoia! É por essa galera que a gente se mantém firme! Obrigado aos nossos
amigos, à nossa crew, e todo mundo que sempre acreditou na gente! Obrigado
vocês também do Colorado Heavy Metal pela consideração, e pelo apoio! Contem
sempre conosco! Valeu!
É SANTA MORTE NESSA PORRA!!!
Por Evandro Sugahara
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